Quarto romance de Clarice Lispector, "A Maçã no escuro" apareceu em 1961, puco depois de "Laços de família", volume que enfeixa algumas das obras-primas de conto em língua portuguesa. "A maçã no escuro", se é possível estabelecer, no caso de Clarice Lispector, esse tipo de divisão, situa-se num momento em que ela, com uma obra já consumada, encontra-se no ápice da realização de suas potencialidades criadoras, pronta para mergulhar na radicalização de certas características de seu estilo, de resto ja bem explícitas, desde a estréia, em "Perto do coração selvagem". Com efeito, em "A maça no escuro", ainda não se observa o abandono total da noção absoluta do gênero 'romance', coisa que logo viria a acontecer com "A paixão segundo GH".
Assim, "A maçã no escuro" ainda é um 'romance', mesmo que fulgurantemente impregnado das marcas mais pessoais de Clarice, e mesmo que aberto para o horizonte ficcional descortinado desde "Perto do coração selvagem", saudado por Álvario Lins como "nosso primeiro romance dentro do espírito e da técnica de James Joyce e Virginia Woolf".
Ainda um detalhe: não raro apontada como ficcionista que só produzia sob 'inspiração', voltada para o intimismo, na sua prática quase cotidiana do ato de escrever Clarice Lispector desmentia essas classificações. Em carta a uma de suas irmãs, recém -publicada no livro de Olga Borelli "Clarice Lispector": esboço para um possível retrato, ela conta que "A maçã no escuro" só foi considerado pronto após tê-lo trabalhado ao longo de oito versões!
Texto deslumbrante, em que a introspecção psicológica, levada ao máximo extremo, conjuga-se habilmente a estrutura da narrativa, como já se disse, tipica do 'romance' enquanto gênero delimitado, "A maçã no escuro" é livro essencial à compreensão da totalidade do percurso criador de Clarice Lispector.
Ficção / Literatura Brasileira / Romance