Adriane Souza 29/11/2023
Uma alegoria do Brasil
Um clássico, sem dúvidas!
O Cortiço, ao meu ver, não deixa de ser um simulacro da formação do Brasil; o qual deixou marcas que percorrem até os dias atuais. Cresci ouvindo do meu pai a seguinte frase: ?o mundo é dos espertos?, e durante toda leitura, principalmente quando o português João Romão era citado, essa frase surgia imediatamente no meu imaginário. Não à toa, essa tal esperteza sempre anda acompanhada de uma certa frieza - com intuito de alcançar determinados objetivos.
O romance aborda, talvez de uma maneira não tanto explícita, diversas searas sociais. Racismo, sexismo, violência, classe, entre outros.
Sobre a edição da editora Antofágica, realmente, é primorosa. Foi a minha primeira leitura da obra e cada nota de rodapé e textos de apoio (apresentação e posfácio), contribuíram para uma melhor compreensão da leitura. Sem citar as ilustrações que complementam na imersão da narrativa e na vídeo aula (que ainda não assisti).
Dito isso, após ler o segundo posfácio de Sílvio Roberto, reparei e me questionei sobre o início e o final do romance; protagonizados pelos personagens de João Romão e Bertoleza. Levando em consideração toda a narrativa, será que os pontos iniciais e finais do romance não seria uma representação do Brasil ou da formação deste? O embate direto entre o negro e o branco europeu?
Enfim, deixo aqui alguns trechos do posfácio do historiador Luiz Antonio Simas:
O cortiço, como a cidade, fala de sobrevivência, tensões, disputas incessantes, espoliações, delírios dr grandeza, desumanização, amor, sexualidade, festa, morte, desarticulação de experiências comunitárias e rearticulação dessas mesmas experiências, a partir de reconfigurações do espaço. (SIMAS, p. 365)
(?) nada que escorre pelas páginas do livro publicado no final do século XIX está muito distante dos nossos dias. A criminalização da pobreza, o racismo, a dicotomia entre civilização e barbárie, continuam presentes em relação às favelas e comunidades periféricas. (p. 365)