Tainan Santos 02/02/2022
O PESADELO AUTORITÁRIO: A VIGILÂNCIA, PRIVAÇÃO E CONTROLE
1984
Obra elaborada pelo escritor e ativista político George Orwell, que relata com um tom atemporal a dura realidade das políticas ditatoriais autoritárias. Onde, por meio de um personagem de nome Winston, ele expõe como é a árdua vivência de um indivíduo em uma sociedade permeada pela privação da liberdade. George também realça nesta sociedade a utilização de câmeras para o monitoramento contínuo dos então membros do Partido, para que qualquer contrariedade das normas postas fossem descobertas e desmascaradas. Orwell, expõe outro fato marcante, a liberdade de expressão, isso não existia nessa sociedade, nem sequer poderia ser verbalizado essa ideia de opiniões vindas dos trabalhadores. Um romance permeado pelo suspense da proibição de relacionamentos entre membros do regime. No qual, Winston (membro do ministério da verdade) e Julia (membro do ministério da ficção) buscam contrariar essa prática e consumar a mesma. Com um contraste de coragem e medo, os dois se tornam íntimos, e vivem de encontros em encontros sabendo que um dia tudo seria descoberto e, dessa forma, a morte seria a única e última certeza que teriam.
Em seu início a história de Winston se passa na chamada Oceania, e ele traz a tona todas as mazelas que essa sociedade demasiadamente burocrática e autoritária trás sobre todos os cidadãos. Sejam eles indivíduos que trabalhem para o Grande Irmão (o comandante supremo desse regime exacerbadamente rígido) ou os proletas, pessoas que viviam nas mais miseráveis condições possíveis, sem apoio algum do então governo. Onde os mesmos, se encontravam em condições deploráveis, imersos na imundícia e depravação.
A manipulação dos pensamentos da população era a ferramenta mais utilizada por esse regime, eles exponha somente o que lhes engrandecia, com o intuito ferrenho de retirar qualquer indagação questionadora do povo, que cumpria o que lhe era ordenada sem almenos fazer cara "feia". A adulteração forçada das mentes dos membros foi o clímax da vitória do Partido. Por intermédio do Duplopensar e do Novoidioma eles mantinham simultaneamente duas crenças contraditórias nos indivíduos e ambas eram estritamente aceitas. Por exemplo, o Ministério da Paz se ocupa da guerra; o Ministério da Verdade, das mentiras; o Ministério do Amor, da tortura; e o Ministério da Fartura, da fome. Essas contradições não são acidentais nem resultam da hipocrisia comum: elas são exercícios propositais de duplopensar.
Não existia mais privacidade nesta sociedade, tudo era fiscalizado 24 horas por dia. As teletelas como eram chamadas, observavam tudo, nada poderia ser feito sem que o Partido soubesse. O autoritarismo desse regime, não permitia sequer que expressões faciais de inconformidade fossem feitas, caso contrário a sentença seria a morte. A essa linha de raciocínio, nota-se semelhanças em determinados pontos, com a contemporaneidade que vivemos. A privacidade deixou de existir, pois a tecnologia evolui de tal maneira que certamente tudo pode, decerto, ser "fiscalizado" seja com, ou sem consentimento.
Toda a verdade era escondida, tudo estava no poder do G.I (Grande irmão), as camadas da sociedade oceânica só via e ouvia o que fosse do agrado deste poder ditatorial. Contudo, Winston, a principal figura do enredo, busca de forma constante recordações do passado, ele busca saber se a sua atual época é verdadeiramente a melhor, ou se a época que outrora vigorou foi melhor. E nesse sentido, Winston se arrisca todos os dias, à procura da verdade, pois aquilo que é exposto pelo Partido, o traz dúvidas constantes, da veracidade de tais fatos.
Na história, existem outros dois locais, chamados respectivamente de Eurásia e Lestásia. No qual, a Lestásia era ligada à Oceania e à Eurásia segundo o Governo oceânico era o primeiro e único inimigo da sua nação. Fato refutado por Winston, que segundo relata lembrar que há 4 anos atrás (isso é, de acordo a época do refutamento 1984), a Oceania e a Lestásia eram inimigas ferrenhas. O que reforça a reformulação do passado pelo Partido, para a conformidade no presente e futuro. Assim dizia o partido, "Quem controla o passado, controla o futuro", "A história era um palimpsesto raspado a zero e reinscrito com a frequência exata da necessidade."
George trás contrastes entre o capitalismo e o socialismo em sua obra, demonstra que tais preceitos políticos podem ser ou não "bons". Bem como, o que cada um oferece aos cidadãos, como ainda as mazelas que os mesmos trazem sem precedentes sobre a sociedade. Orwell, faz reflexões sobre as guerras e, expõe porque tais acontecimentos catastróficos ocorrem e, quais são as finalidades das mesmas. Como todo romance, não poderia faltar o amor, isso é óbvio, e ele traz no casal Winston e Júlia uma força e determinação que se esvaiu na atualidade, eles de fato se amavam, onde nem mesmo a sentença certa da morte pode afastá-los, ou sequer amedrontá-los. Por fim, George realça o poder das camadas pobres das sociedades, seja no enredo do livro, ou na vida real, certamente essas camadas que possuem a maior gama de pessoas, são de fato poderosas, porém, elas não possuem a compreensão adequada para efetivar lutas que transformem suas vidas, até porque, elas são desprezadas pelos governos, seja autoritário ou não. E dessa forma, não dispõem de ensinamentos básicos que as capacitem a desenvolver seu intelecto. E assim, induzi-las a procurar meios de combater as desigualdades e misérias que permeiam suas vidas.
Com um final comovente e triste a obra se finda. Com traços de desumanidade e brutalidade sem precedentes, Winston e Júlia são transformados pela polícia do pensamento. Ou melhor, agora não mais são diferentes, agora eles são iguais a todos aqueles que amam cegamente o Grande Irmão. E tudo, sem exceções, tudo para o Partido não passava de uma ganância arbitrária de querer mais e mais poder. Fundamentados no ódio e na cobiça, os princípios desse partido estavam alicerçados na loucura extrema. "As antigas civilizações alegavam ser fundadas sobre o amor e a justiça. A nossa se funda no ódio."