Paulo1844 30/08/2024
1984, de George Orwell, é uma narrativa que revela os mecanismos de coerção e controle de um governo que utiliza a manipulação como principal ferramenta para garantir a lealdade da população ao Partido. Em 1984 o controle é exercido pelo medo e pela vigilância constante. Aqueles que ainda não leram 1984 permanecem, como na alegoria da caverna de Platão, confundindo as sombras na parede com a realidade.
O mundo retratado no livro não difere muito do nosso, onde a vigilância contemporânea é tão autoritária quanto a descrita por Orwell. Assim como no livro, somos dominados pela ideologia dominante, o que, em termos marxistas, significa que a dominação ocorre não pela força, mas pelo convencimento. A realidade é moldada segundo os interesses da classe dominante, que nos vende suas mentiras como verdades. Essa falsa consciência da realidade, que aceitamos, não é construída e controlada apenas pelo Estado. Como bem observa Foucault, os mecanismos de poder na sociedade capitalista se subdividem em micro-relações, ultrapassando o Estado e atingindo a vida cotidiana. Dessa forma, a vigilância acontece em todas as esferas do convívio social, impondo normas de comportamento e adequação.
Seguindo o modelo do panóptico, há uma visibilidade total do indivíduo, convertendo sua vida privada em pública, para ser controlada nos mínimos detalhes. Esse controle é viabilizado pelos aparelhos tecnológicos e pela internet, que funcionam como a teletela de Orwell, exercendo a mesma função do Big Brother: vigiar e punir os inadequados.
Bauman chama essa vigilância voluntária de ?vigilância líquida?, onde consentimos em fazer parte do controle e até contribuímos para ele, ignorando os perigos de uma vida totalmente vigiada. Dentro de um modelo panóptico, onde há visibilidade total, a vigilância tornou-se fluida, ocupando todos os espaços.
Estamos sob o controle do Big Brother para Orwell, da ideologia para Marx, do panóptico para Foucault e da vigilância líquida para Bauman. Cercados por grades que ajudamos a construir, mas que preferimos não enxergar, somos controlados em cada pensamento. Para não sermos inadequados, abdicamos da intimidade, tornando-nos uma massa conformada, monitorada por lentes e microfones que impossibilitam qualquer expressão autêntica. Afinal, quando passamos a postar fotos de comida no Instagram, torna-se difícil acreditar que nossos sonhos não estão sendo vigiados.