Thalya.Amancio 02/08/2024
Ao voz afrodescendente e negra brasileira
Este romance da maranhense conta a história de amor entre Tancredo e Úrsula, a personagem feminina que dá nome ao livro. Ele viajava perdido em pensamentos, sendo quase esmagado por seu cavalo convalescente, quando é salvo por Túlio, um homem negro escravizado, que demonstra ter uma alma honesta e sincera. Logo, os dois começam uma amizade e Tancredo paga a liberdade de seu amigo. A trama se desenrolará nessas relações, mas principalmente no amor entre a mocinha e o rapaz branco, já citado. Ambos se apaixonam rapidamente e perdidamente, mas, claro, como todo romance romântico, encontrarão barreiras e impedimentos. Um antagonista ou vilão surgirá em seus caminhos, destruindo tudo e sendo um agente do mal.
Esse enredo parece clichê, contudo o foco no relato e na voz das personagens negras/pretas escravizadas ganha destaque, o que foi e é um aspecto singular da narrativa.
Úrsula é considerado o primeiro romance da literatura afro-brasileira. Embora tenha elementos claramente românticos e idealizados do período em que foi escrito e publicado (século XIX), o seu lado singular está no protagonismo dado aos personagens negros/pretos e/ou escravizados. Eles não são meros objetos dos protagonistas, por exemplo, todos têm voz e são fundamentais para o enredo. Apenas Maria Firmina dos Reis ? uma das primeiras professoras no país, uma mulher maranhense, também negra ? poderia escrever sem exoticizar essas personagens ou deixá-las à parte, sem foco ou importância. Claro que outros trouxeram personagens negros, como José de Alencar, mas os casos são raros e, muitas vezes, lemos caricaturas ou personagens submissas, escondidas nas sombras ? o escritor romântico famoso faz isso em "O Tronco do Ipê", um dos seus únicos que traz personagens negras, infelizmente, subalternizadas, ou seja, não possuem voz e são submissas aos outros personagens brancos.