Erick 23/09/2012 Neste livro, Adorno e Horkheimer fazem uma minuciosa análise da civilização ocidental, tendo como fundamento o mito, trabalhado na Odisséia de Homero. Fazem diversas análogias das aventuras de Ulisses com a sociedade industrial.
Na dialética do esclarecimento eles concebem a história do pensamento como um constante processo de auto-destruição das formas de pensar, culminando na razão instrumental, que transforma a razão em técnica. " A técnica é a essência desse saber, que não visa conceitos e imagens, nem o prazer do discernimento, mas o método, a utilização do trabalho de outros, o capital"
Essa instrumentalização do pensamento teve enorme influência dos iluministas, principalmente de Kant, que entende a razão como " a saída do homem de sua menoridade, da qual é o próprio culpado". Após a dominação do pensamento pelo homem, este domina a natureza e, consequentemente, toda a sociedade, estabelecendo uma ordem de classses, onde os detentores do poder econômico exercem influência em todos os âmbitos. A ordem estabelecida é postulada como lógica natural derivada de uma razão abstrata. As coisas acontecem conforme os princípios as estabelecem. O sistema instila um bom senso no indivíduo, para que este aja de acordo com os interesses dominantes, mas com a sensação de liberdade. "As leis lógicas estabelecem as relações mais gerais no interior da ordem, elas as definem"
Em seguida dessa dominação econômica da sociedade, todos os conceitos e costumes formulados posteriormente, principalmente a moral, terão influência burguesa e serão seguidos pela massa: o casamento, a industria cultural, o individualismo, o fascismo etc. Em relação ao casamento burguês, é criticado como tendo por essência a subjugação de gênero. " O cristianismo transfigurou no casamento, como união dos corações, a hierarquia dos sexos e o jugo imposto ao caráter feminino pela ordenação masculina da propriedade, aplacando assim a lembrança de um passado mais feliz desfrutado pelo sexo feminino na era pré-patriarcal. Na Sociedade industrial, o amor é faturado."
A própria forma de sentir está subordinada ao sistema econômico. "Os sentidos já estão condicionados pelo aparelho conceitual antes que a percepção ocorra, o cidadão vê a priori o mundo como a matéria com a qual ele o produz a si próprio".
A análise moral da sociedade capitalista é fundamentada, basicamente, em Nietzsche e Sade. O primeiro desenvolve em pormenores a gênese da moral burguesa, entrelaçando a religião no âmago das relações sociais. Religião e Ciência se harmonizam para que a dominação se perpetue.
A análise de Sade " mostra o entendimento sem a direção de outrem(...) o sujeito burguês liberto de toda tutela"; isso se dá não somente com a libertação sexual, mas da espiritualização do erótico como via de transgressão das regras sociais. A partir do mometo que " todo prazer é social e tem origem na alienação", o gozo é entendido como redenção das amarras sociais e uma aspiração de retorno à natureza e animalização do homem (anti-civilização). Uma passagem do livro " História de Juliette" de Sade demonstra exatamente essa consciência de insurreição moral. " A partir do momento de que não cremos em Deus, minha cara, as profanações que desejas nada mais são do que criancices absolutamente inúteis..."
Talvez o mais conhecido capítulo deste livro seja o que trata da indústria cultural, conceito desenvolvido pelos autores em consonância com a "cultura de massa", a padronização das estéticas por meio da conversão em produto de todas as manifestações da sociedade, desde a cultura, passando pela política, os meios de comunicação e a ciência, todos aspectos interligados por um fio condutor: a hegemonia. " Cada setor é coerente em si mesmo e todos o são em conjunto(...) Apesar de todo o progresso da técnica de representação, a pedra com que a indústria cultural alimenta os homens é a da estereotipia".
Um dos principais objetivos da indústira cultural é o aprisionamento das massas e a sua seguinte conformação. " Os consumidores são os trabalhadores e os empregados, os lavradores e os pequeno burgueses. A produção capitalista os mantêm tão bem presos em corpo e alma que eles sucumbem sem resistência ao que lhes é oferecido". Acontece que a indúsria cultural é caracterizada pela submissão ao comercialismo. " Sua ideologia é negócio (...) A diversão é prolongamento sob o capitalismo tardio".
Um dos pontos questionados, com esa instrumentalização da razão, refere-se as prioridades desse progersso: a ciência possibilita meios técnicos de transformar o ambiente, mas o aspecto humano é deixado de lado. " Os desocupados dos grandes centros encontram frio no verão e calor no inverno nos locais climatizados(...) A ideia de esgotar as possibilidades técnicas dadas, a ideia de plena utilização de capacidades em vista do consumo estético massificado, é própria do sistema econômico que recusa a utilização de capacidades quando se trata da eliminação da fome".
A indústria cultural é cruel. Propicia uma ilusória impressão de satisfação. Mostra o que as pessoas querem ver, mas sem nenhuma esperança de que elas alcançarão o desejado. Molda a vontade do público se utilizando da imagem. " A indústria cultural não sublima, mas reprime(...) Oferecer-lhes algo e ao mesmo tempo privá-las disso e á mesma coisa. É isso que proporciona a indústria do erotismo. É justamente porque nunca deve ter lugar, que tudo gira em torno do coito."
Na Sociedade do século XX, a indústria cultural absorve todos os elementos artificiais da vida humana. Mas é na publicidade, com a qual se cofunde, que sua dominação se revela. A repetição do mesmo produto cultural se converte em técnica de manipulação das pessoas. Os grandes grupos econômicos se utilizam desse método para reinar absolutamente e impor seus padrões de comportamento. " As mais íntimas reações das pessoas estão completamente reificadas para elas próprias que a ideia de algo peculiar a elas só perdura na mais extrema abstração: personalidade significa para elas pouco mais do que possuir dentes deslumbrantemente brancos e estar livres do suor nas axilas e das emoções".