Cadernos Negros

Cadernos Negros Esmeralda Ribeiro




Resenhas - Cadernos Negros


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Lais Porto (@umaleitoranegra) 31/05/2018

Cadernos Negros 16 Contos
Terceiro livro do Cadernos Negros que leio e não está na sequência numérica devido a disponibilidade que o livro tem na biblioteca, as vezes chego lá e tá emprestado aí pego o que tem disponível pra empréstimo na hora, mas como não tem a necessidade de ler na sequência dos volumes tá tudo tranquilo kkkk

Nesse Caderno reencontrei alguns autores que li nos outros dois Cadernos. O conto de Conceição Evaristo nesse Caderno é Duzu-Querença que tá no seu livro Olhos D’água, isso também aconteceu no Cadernos Negros Volume 30 que tem um conto que eu já tinha lido no livro Olhos D’água, ou seja, Conceição Evaristo publicou seus contos primeiro no Cadernos e só depois publicou seus contos em um livro só seu como única autora.

Isso demonstra a força e a importância desse projeto do Quilombhoje, sabemos o quão excludente é o mercado editorial e que segue as mesmas características que sustentam a sociedade, ou seja, patriarcal, racista e classista, sendo assim uma escritora negra se sustentar e sobreviver nesse meio é muito difícil, por isso se faz necessário estratégias como a do Quilombhoje pra articulação, solidariedade e luta do povo negro, para publicação e visibilidade dos escritores e escritoras e deleite dos leitores e leitoras negras.

Lendo Cadernos descobri o escritor Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, foi uma descoberta maravilhosa, quando pego algum Cadernos já fico esperando os contos de Cuti. Agora estou loucamente procurando obras únicas suas, espero muito conseguir encontrar na biblioteca. Os contos de Cuti são sempre muito nítidos na mensagem que quer passar; são fortes, ele não poupa palavra, conceitos e ideias para construir uma história que represente a vida do povo negro. Leiam Cuti!



Desse volume o conto que mais me chamou a atenção foi o conto de Esmeralda Ribeiro, A procura de uma borboleta preta. O conto relata como uma mulher negra perde seu filho após um linchamento. Essa história me tocou muito pois lembrei do período que todo dia era anunciado um linchamento de alguém, esse alguém sempre com cor certa – preto, em algum canto do Brasil.

Esses casos brutais não eram cometidos diretamente pela elite, não eram os brancos que desciam de suas mansões e carros para jogar pedra em preto, eram e são os próprios pretos que destroem o seu semelhante, mas a construção dessa violência não foi gerada por nós, foi gerada por eles para que não sujassem suas mãos e assim o próprio oprimido faz o serviço sujo.

O momento que mais me chamou a atenção foi que essa mulher liga pedindo ajuda pra uma amiga e esta não ajuda ela, a narradora da história escuta a conversa, mas também não ajuda essa mulher, fico me perguntando, na realidade essas mulheres não recebem a ajuda de ninguém. Seja a mulher que fez aborto, ou a que teve o filho e não consegue sustentar. Fiquei me perguntando o que o movimento negro e movimento feminista faz, sei que muitas e muitas campanhas existem e tals, mas e lá no dia a dia, lá na hora mesmo, quem ajuda essas mulheres?

Não sei se vou algum dia vou ter resposta para essa pergunta, também direciono ela pra mim mesma e faço minha auto crítica e reflexão, o que eu também estou fazendo para ajudar tais mulheres? Enfim, são perguntas para bagunçar a nossa mente, criadas pela literatura negra que alcança seu objetivo de gerar inquietações e produzir quem sabe revolução.


site: https://leitoranegra.blogspot.com/
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