Clio0 09/05/2022
Karmilla ou Como Escrever uma Vampira Lésbica no século XIX Sem Ser Censurado.
Esse conto é um dos responsáveis pelo que viria a ser estereótipo da vampira, uma figura sensual e cheia de contradições, tão aterrorizante quanto sua contraparte masculina.
A obra de Bram Stoker foi fortemente influenciada por esse conto pois ambas são narradas em primeira pessoa, o vampirismo tem sintomas similares, e os autores pertencem a escola do romance gótico.
O drama envolvendo a antagonista é mais calcado nas impressões de Laura - a jovem vítima - do que em qualquer substrato promovido pela trama. Vale lembrar de que a noção de Vampiro/Humano Atormentado é relativamente nova, com a maioria dos autores mais populares preferindo defini-los como criaturas, ou seja, não podendo ser julgados pelos mesmos critérios.
Essa foi uma grande jogada do autor que ao inferir que Karmilla não era humana, não poderia ser taxada na época de homossexual. Assim, a sedução envolvendo as mulheres ganhou um sentido de predação que permitiu a obra fugir da censura e transformou o texto em algo verdadeiramente surpreendente já que não há nem mesmo alusões de que o lesbianismo seria uma "defeito vilanesco" ou um "desvio de caráter."
A história em si é relativamente dinâmica para o gótico-romântico, e muito do que hoje é considerado clichê foi amplamente utilizado por Le Fanu. Então, espere castelos, superstição, mistérios fáceis, mas intermináveis, etc.
Recomendo.