spoiler visualizarKamilla 02/06/2024
P.S. Não se esqueça de levar flores
Aqui, deixo alguns highlights da leitura como recordação pessoal. Por desencargo, aviso, pode conter spoilers. Escritos não tão organizados de uma tarde reflexiva de domingo.
Livro dado de aniversário por uma amiga querida que admiro bastante. Leitura fluida e de vínculo rápido.
??A epígrafe traz a Alegoria da Caverna de Platão, bastante condizente com a reflexão central da obra, a qual versa sobre a dualidade entre viver na escuridão ou na luz. É melhor saber ou não saber? Até que ponto acalenta a alma viver na ignorância? Charlie vivia melhor antes ou depois da ?luz?? Também é interessante pensar nas transições entre essa dualidade (escuridão-luz / luz-escuridão) - Charlie passa pelas duas.
?Quanto mais inteligente você se torna, mais problemas você terá?.
?Vale a pena conhecer o passado??
?Outra reflexão interessante é sobre o conceito de inteligência. Li o livro em um momento muito oportuno - enquanto estou no rodízio do internato de psiquiatria e, ainda, com a oportunidade de ter uma aula de uma residente diferenciada suma das funções psíquicas (no caso, inteligência).
- A residente trouxe uma definição preferida: ?a inteligência é a capacidade de o indivíduo atuar de acordo com propósitos, pensar racionalmente e atuar de maneira eficaz em relação ao ambiente? (Wechsler, 1896-1981). No livro, vemos formas de mensurá-la por QI, testes de abstração e de resolução de problemas (como o labirinto ?). É interessante perceber a evolução de Charlie ao longo da leitura, na sua forma de se refletir sobre e adaptar ao ambiente à sua volta, conforme o percebe cada vez mais racionalmente.
?Aqui um adendo. A ?inteligência? mensurada não deve ser um limitante da participação social do indivíduo. A sociedade em que estamos nos impõe uma forma de metrificar as pessoas conforme produção intelectual, mas a vida não se resume a isso. É importante encontrar e estimular habilidades/inteligências diversas em cada pessoa, fazendo com que elas achem e ocupem espaços na sociedade e consigam viver bem. O conceito de viver bem é individual, conforme a felicidade de cada um. O trabalho de Charlie na padaria é tão digno quanto o seu trabalho como chefe da pesquisa. No fim, o importante é encontrar um espaço que você consiga desempenhar se sentindo bem e acolhido.
- Estive acompanhando o ambulatório de Pediatria há cerca de 2 meses. Uma das consultas me marcou, na qual atendi um paciente com DI, sob orientação de uma neurologista excepcional. Ela orientou a família sobre as várias formas de desempenhar papel na sociedade e ocupar espaços, prezando pelo futuro e pela felicidade do paciente em questão. Ele estava com dificuldades em acompanhar a escola e submeter-se a diversas provas, matérias, redações. Será que precisavam forçá-lo a entrar e terminar faculdade? Um curso técnico era uma alternativa? O que ele gostava de fazer? Desenhar? Consertar? Ajudar na loja dos pais? Ótimo, invistam nisso. Ela pode ser tão feliz quanto um pós-graduado em X ou Y.
?O mundo não os quer, e eles logo aprendem isso?.
?Outro ponto que me marcou na aula da residente foi a reflexão de que a inteligência não necessariamente é inversamente proporcional à empatia ou um fator limitante à socialização. Pelo contrário, as pessoas mais inteligentes podem ser mais empáticas e perceptivas sobre o meio e as pessoas à sua volta e podem ter mais facilidade no relacionamento com elas. A questão, ao meu ver, é a importância e a prioridade de investir nisso, em tempo de qualidade, em atos de serviço, em gentileza.
?Inteligência e educação, sem doses de afeto humano não valem droga nenhuma?.
?Existem muitas pessoas que darão dinheiro ou bens materiais, mas poucas que darão tempo e atenção?.
????Também, algumas coisas não podem ser somente racionalizadas.
?Problemas emocionais não podem ser resolvidos como problemas intelectuais?. Respeita o seu feeling.
??Uma última reflexão, é importante saber rir de si mesmo. Você não precisa ser o sabe tudo da roda. Não precisa sempre ?querer ser inteligente igual a eles?. Precisamos saber rir das nossas limitações, precisamos saber rir dos nossos erros. A vida está aí para isso, aprender e ser feliz. Um trecho de uma música que gosto bastante: ?Ah, se a gente não sabe mais rir um do outro meu bem, então o que resta é chorar? (O Vento, Los Hermanos).
?Porfavor digam pro professor Nemur não ser tão mau umorado quando as peçoas riem dele?.
Ah, e não esqueçamos de levar flores para os nossos. ??