Dany 16/10/2021
O poder da leitura e da empatia podem fazer milagres!
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SINOPSE: Você talvez já viu aquele filme sobre uma menininha extremamente inteligente que era “descartada como casca de ferida” pelos próprios pais, além de passar alguns perrengues na escola nas mãos da terrível Sra. Taurino, a diretora que mais parece um general. E se eu te disser que essa história é, na verdade, um livro mágico, que critica, ensina e diverte, tudo ao mesmo tempo? Vale muito a pena ler Matilda e entender como o poder da leitura e da empatia podem mudar a vida de alguém.
RESENHA: Matilda é uma menina diferente. Não só em relação às outras crianças, até porque, ela se dá muito bem com elas; fora sua genialidade para matemática e sua vasta bagagem literária, do alto dos seus cinco anos e meio você não a distinguiria das outras crianças da sua idade. A diferença fica enorme, contudo, quando você a compara com os demais moradores da sua casa e, chamo-os assim porque família mesmo é o que eles não são. Sabe aquela criança que a gente diz que “aos cinco anos já sabia fazer um miojo”? Pois é, a Matilda precisou, de fato, ser essa criança.
O Sr. e a Sra. Losna nunca deram a devida atenção à menina, nunca incentivaram, muito pelo contrário, ridicularizavam sua paixão pelos livros e sua curiosidade pelo mundo. Como outras das obras de Roald Dahl, essa aqui também discute, de forma bem-humorada e bem inserida na trama, vários dilemas das famílias modernas e das infâncias modernas – e olha que ele escreveu esse livro no século passado.
Filha de pais extremamente negligentes e egocêntricos e, para piorar, com um pai machista e trambiqueiro que se orgulha de passar a perna nos clientes enquanto treina seu primogênito, Michael, descartando totalmente a “terrível” Matilda, que é uma grande pestinha aos olhos dele, a menina encontra, desde muito cedo, sua única válvula de escape nos livros. Autodidata, aprende a ler sozinha e já coleciona uma impressionante lista de clássicos aos três anos de idade. É claro que, aqui entra a parte fantástica da história que, novamente, como a maioria das narrativas de Dahl, conta com elementos de fantasia e do absurdo.
Esses elementos ficam ainda mais evidentes a partir do momento que Matilda vai à escola. Lá ela conhece a adorável Professora Mel, a pequena Lavanda, que se tornará sua amiga mais próxima, e a terrível e temível diretora, a Sra. Taurino. As verdadeiras atrocidades cometidas por essa diretora/general são, obviamente, coisas que deixam o cabelo de qualquer um em pé, são quase inacreditáveis e, conforme a própria Matilda logo percebe, essa é a grande “sacada” dessa vilã, afinal, quem acreditaria na palavra de uma criança contra a de uma bem-conhecida pessoa de “alta patente” na sociedade? E é horrível até mesmo lembrar disso, mas eu conheci uma Diretora Taurino na minha vida, não enquanto aluna, mas enquanto professora. Toda a vez que a Srta. Mel pensava “Ela só pode ser louca”, eu pensava “Amiga, eu sei bem do que você está falando!”
Como qualquer criança inteligente e que se sinta injustiçada, Matilda decide começar a tramar pequenas “lições” para dar nos adultos ao seu redor, segundo ela mesma, é a única forma de não ficar louca diante de tanta ignorância. E é muito engraçado acompanhar os desdobramentos desses seus planos. O humor e a sagacidade do autor são pontos fortes nesse e em outros de seus trabalhos.
Por fim, preciso comentar que, para mim, essa história é muito especial por três motivos: primeiro, ele é muito bem escrita. As críticas do autor em relação à educação das crianças são apresentadas através dos “absurdos”, de forma bem humorada, por ser uma história para o público infantojuvenil, mas é impossível não entender o que ele quer dizer de verdade, pelo menos, quando se lê a história na idade adulta. Os atos de punição e repressão exacerbados que acontecem na escola, a ignorância e a negligência por parte de alguns pais, a falta de empatia, o egocentrismo e incapacidade de alguns adultos de verem as crianças como seres inteligentes e capazes, são alguns dos principais pontos. A trilha sonora perfeita para ler Matilda seria Another Brick In The Wall, se é que vocês entendem a referência.
Segundo, é emocionante presenciar o encontro entre duas personagens que se sentem deslocadas e incompreendidas, é quase como se a adulta e a criança fossem a extensão ou parte que faltava uma da outra. Estou falando da aproximação entre Matilda e a Srta. Mel. Esse encontro é a prova de tudo que pode mudar na vida de uma pessoa a partir do momento em que ela se sente vista, valorizada e querida. Você quer ser professor e procura um modelo a seguir? A Srta. Mel pode ser seu guia!
E, por fim, a mensagem mais bonita dessa história, é a da diferença que a literatura pode fazer na vida das pessoas. O hábito da leitura não vai, apenas, melhorar suas habilidades com a língua durante as aulas de Português, por exemplo. A leitura vai abrir portas dentro da sua própria imaginação, ela te ensina a ser mais crítico e mais empático, enquanto te leva a conhecer pessoas e lugares diferentes funcionando, muitas vezes, como um refúgio diante da realidade difícil em que você esteja inserido, como acontecia com a personagem principal. Você não precisa ler uma lista de clássicos conhecidos apenas para tentar atingir um certo “status”, esse não é o objetivo. A ideia é, como a bibliotecária diz para Matilda, que você se deixe tocar pelas palavras, que as “deixem fluir em você como música”, só assim você sentirá o verdadeiro poder da literatura.
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