Fernanda631 05/07/2023
P.S. Eu Te Amo
P.S. Eu Te Amo foi escrito por Cecelia Ahern e foi publicado em 2003.
O que você faria se após a morte de seu marido você começasse a receber cartas com indicações do que fazer nos meses seguintes após à morte? Seguiria tudo à risca ou simplesmente ignoraria?
Esse é o grande dilema que Holly se encontra. Ela e seu marido, Gerry, se conheceram na infância, foram grandes amigos antes de serem namorados. Conseguiam saber tudo o que o outro pensava, se divertiam e compartilhavam os seus maiores segredos. Era impossível alguém imaginá-los separados, mas quando a doença apareceu, essa alegria que transbordava o casal apaixonado foi dissipando.
Gerry começou a sentir fortes dores na cabeça e decidiu procurar um médico. Quando finalmente o fez, foi diagnosticado com um tumor e não restava muitos meses de vida – talvez um ano. E era tudo que Holly e Gerry tinham de sua vida de casados. Como passar os dias seguintes após essa terrível notícia? Holly fazia de tudo para que Gerry aproveitasse todos os últimos meses de sua vida.
Após sua terrível morte e uma Holly completamente despedaçada e prestes a completar 30 anos, ela descobre um pacote de carta deixado por Gerry. Mesmo prestes a morrer, ele se preocupou e pensou em todos os passos que Holly precisaria dar em sua vida após esse trágico acontecimento. Quem, além dele, era capaz de imaginar como ela conseguiria seguir a vida?
Era uma carta por mês e cada uma ditava o que ela precisava fazer. Mas eram apenas até dezembro, em torno de 9 meses, depois disso ela teria que seguir com a sua vida. Essas cartas irão ajudar uma Holly completamente devastada a sorrir um pouco, dançar, ser corajosa e até mesmo deixar a tristeza sair e mostrar ao mundo que ela está tentando sua vida sem o seu melhor amigo; seu verdadeiro amor.
Com as cartas em mão, a vida de Holly começa a tomar um rumo. E a recente morte de seu marido, claro que Holly precisaria de força e até mesmo de coisas que ligassem a sua vida atual com seu falecido marido. Afinal, não é fácil superar a morte de um ente querido, não é mesmo? Essas cartas, apesar de muitas pessoas acharem que fariam mal a ela, trouxe esperança de dias melhores.
Cecelia Ahern é capaz de nos surpreender em cada livro seu. O que mais gosto em sua escrita é a forma como a leitura flui facilmente e apesar de apresentar uma grande carga emocional, ela ainda consegue dar aquela pitada de humor e descontração em seus personagens. Tem coisa melhor do que em um momento triste, choroso, você conseguir sorrir nem que for um pouquinho?
Outra coisa que gosto muito na escrita da autora é a forma como todos seus livros apresentam uma grande lição, independente de qual seja. Ela consegue nos transmitir uma emoção diferente em cada capítulo e até mesmo nos fazer sonhar acordadas junto com seus personagens – assim como foi no caso de Holly. Como a escrita intercala no presente e em alguns pensamentos do passado, nossa personagem estava imaginando em diversos momentos e isso foi muito legal para perceber a ligação que ela tinha com Gerry.
Gerry ajudou, mesmo após a morte, a guiar a vida da Holly mesmo que por alguns meses; Holly conseguiu seguir sua vida apesar de todos os dias ruins e momentos ruins que ela teve que enfrentar sozinha, sem seu melhor amigo ao lado. Mas também nos mostrou que a vida deve ser vivida, mas que é sempre importante ter alguém para guiar e também que alguns amores duram mais que a vida.
O livro é dividido entre o passado e o presente de Holly, isso nos faz enxergar um forte contraste na constituição de sua personalidade. A convivência de Holly com Gerry tinha um sentido muito bem definido, mas e após a sua “partida”? A vida perdeu o sentido? Isso é o que Holly, ao nosso lado, indaga-se. Os bilhetes que Gerry deixou nos trazem uma compreensão mais sublime do amor, não soam como ordens ou guias para superar o luto e dizer que a vida é mil maravilhas, mas observações de uma pessoa com alto poder de empatia. O fato de serem observações e não palavras imperativas nos fazem saborear uma sensação de livre reflexão e, com certeza, todos os leitores sairão transformados da última página da obra.
A capa tem um designer simples, mas é justamente por essa característica, harmoniosa com o enredo, que fiquei tão encantado. O quadro da relação de Gerry e Holly é tão belo e envolve mais ainda em um tempo onde vemos, perto de nós mesmos, raros relacionamentos conseguirem atingir tamanha completude, não uso a palavra harmonia porque mais a frente isto será elucidado. A singeleza na capa é compensada pela delicadeza do gesto que retrata (Gerry dando um beijo na bochecha de Holly, enquanto ela dá um sorriso que nos irradia uma sensação de plena felicidade). Acho difícil qualquer ser humano minimamente sensível não se comover, seja qual for o seu grau de abertura às “questões do coração”.