ViagensdePapel 28/08/2017
A Companhia das Letras nos apresenta uma excelente obra, com uma seleção de 43 contos da escritora americana, Lucia Berlin.
O quarto conto, Manual da faxineira, é o que intitula o livro. A capa está toda em pontilhismo, técnica muito usada nos anos 50 pelo movimento Pop Art, as cores também remetem àquela época, despertando a curiosidade, é possível distinguir um aspirador antigo da marca Hoover.
Ao iniciar a leitura, uma onda de estranheza quase me afogou, porém fui me habituando com o estilo inusitado da escritora, quase sempre realista demais, às vezes com finais para mim sem sentido ou incompletos, ela simplesmente conseguiu abalar toda a familiaridade e o conforto que sinto ao ler um livro. Mas, ao mesmo tempo que isso parece ruim, é bom, porque nos leva a refletir sobre os temas abordados nas histórias (velhice, solidão, alcoolismo, traição, aborto, morte, problemas familiares…), que de uma forma ou de outra fizeram parte da vida dela. Depois de alguns contos iniciais, percebi estar cada vez mais ávida em continuar lendo, louca para julgar cada uma das histórias.
Durante as mais de 500 páginas, Lucia menciona objetos, produtos, marcas (Jim Beam, Greyhound, Thunderbird, Kool); lugares (El Paso, Nacogdoches, Texarkana, Mullan, Algarrobo, Baton Rouge, Albuquerque, Púcon); comidas (huevos rancheros, chilaquiles); plantas (delfínios, cosmos, tentilhões, bougainvilleas, alcaçuz, turfa); animais (bacaraus, moreia, pargo, grous); autores (Mishima, Tchekhov, Sartre, Keerkegard, Keats); filmes e programas de televisão (Beau Geste, The odd couple, Mildred Pierce, Leave it to beaver, Papai Batuta); músicos e músicas (Ornette Coleman, Siboney, La vie en rose); arte, mitologia (Sísifo, Laocoonte); medicamentos e procedimentos hospitalares (Nembutal, Fenobarbi, cobaltoterapia, colostomia, Metadona), termos hispânicos (pachucos, chicanos, mariachis, huasos); alguns termos franceses (enchanté, connaisseur, tempus perdu, thés dansants), e também algumas palavras desconhecidas para mim (butins, carfologia, meeiro, palimpsesto, bagana). Com tudo isso, é fácil concluir que a autora possuía uma bagagem cultural excepcional, apesar de ter me sentido um pouco perdida, talvez fosse diferente se eu tivesse vivido na mesma época de Berlin, por isso, decidi pesquisar alguns desses itens para captar com mais profundidade cada coisa mencionada por ela. Puro interesse, friso que é possível ignorar tudo isso e entender com clareza o que está sendo contado.
Leia a continuação da resenha, acesse o link abaixo:
site: http://www.viagensdepapel.com/2017/08/01/resenha-manual-da-faxineira-de-lucia-berlin/