Lina DC 03/06/2017"A poção secreta" é um livro repleto de aventuras e que faz o leitor se apaixonar a partir da capa. A trama se passa em Kingstown, no Reino de Nova, onde a magia corre livremente e é responsabilidade de seus governantes manterem essa magia sob controle. Para isso, é conveniente que esse governante seja casado, para que consigam dominar tal fardo da melhor forma possível.
Nesse universo criado por Amy Alward, as pessoas são divididas em comuns e talentosos. Os comuns não possuem magia própria, mas em compensação podem manipular matérias e, quem sabe, tornarem-se alquimistas. Porém, os talentosos são vistos como indivíduos mais significativos, já que possuem magia própria.
"Ser comum, no entanto, é o que faz de nós grandes alquimistas. Nossa incapacidade para praticar magia nos dá a vantagem de poder lidar com ingredientes mágicos sem correr o risco de corrompê-los ou contaminá-los. Mas esse não é o nosso único diferencial. O que torna a família Kemi especial é a nossa incomparável vocação para as artes alquímicas - saber intuitivamente a receita de qualquer poção, discernir as propriedades de cada ingrediente e entender os mistérios por trás do processo de cura." (p. 19)
A história possui duas perspectivas: uma narrada em primeira pessoa por Samantha e outra em terceira pessoa que mostra os acontecimentos com a princesa Evelyn.
Samantha é uma jovem que vem de uma família conhecida no meio da alquimia: os Kemis. Na época dourada, onde se utilizavam apenas produtos naturais os Kemis eram reconhecidos por todo o reino e muito procurados. Porém, com a modernização e o progresso, surgiram os sintéticos, produtos feitos em laboratórios e em grandes produções, tornando os alquimistas obsoletos. A Loja de Poções Kemi é prova disso, pois tem uma clientela muito pequena, está caindo aos pedaços e a chance de recuperação é mínima. Para Samantha, isso é terrível, pois é o seu legado. Ela é a nova geração de Kemi. Aquela que tem o dom especial para alquimia e passa os dias como aprendiz do seu avô no laboratório. Só um milagre poderia salvar o futuro deles...
"A Loja de Poções Kemi foi um dia uma das boticas mais proeminentes de Kingstown. Mas ninguém precisa mais de boticas. Não quando tem megafarmácias, no centro da cidade, vendendo versões sintéticas das poções tradicionais pela metade do preço. Agora somos resquícios de um tempo que não volta mais. Relíquias." (p. 11)
E esse milagre ocorre quando a princesa é envenenada por uma poção e todos os alquimistas são recrutados para uma Caçada Selvagem. Como o nome diz, uma Caçada Selvagem é quando esse seleto grupo irá caçar os ingredientes em meio a território inóspitos, correndo riscos e tentando acertar a poção para alcançar a grande recompensa.
Porém, essa caçada não será como as outras. As apostas são altas demais quando um inimigo da coroa é convocado e seu objetivo não é exatamente salvar a princesa... E para alcançar esse objetivo, esse inimigo não terá escrúpulos para derrubar a concorrência.
Como se isso não bastasse Samantha terá que enfrentar uma grande corporação que é implacável, mas que tem como herdeiro alguém que mexe com o emocional dessa jovem. Será que Sam está preparada para tudo isso?
O livro é repleto de aventuras e locais magníficos que vão sendo apresentados aos leitores, como a Praia de Sirena, as Selvas de Bharat, a cidade de Pahara, a montanha de Hallah e as selvas de Zambi. Locais que não são apenas mágicos por conta de seus habitantes, mas sim por conta de suas descrições ricas e inebriantes. O enredo também é repleto de criaturas mágicas, como sereias e unicórnios.
Os personagens são simplesmente incríveis. Sam é determinada, mas ainda insegura com seus talentos. Ama sua família e tem uma afinidade ímpar com o seu avô, um homem sagaz mas extremamente teimoso. O núcleo familiar de Sam é completo e diverso, mas o que não falta é amor e apoio incondicional.
Kristy é a coletora de Sam, aquela que sabe onde encontrar os ingredientes e que está disposta a se arriscar para consegui-los. Se há uma palavra para descrevê-la é implacável. A princesa Evelyn está passando por um momento delicado, onde seu futuro está sendo traçado e ela se vê sem controle e amedrontada. Anita é a melhor amiga de Sam e junto com seu irmão Arjun dá o apoio incondicional à mocinha mesmo quando essa não merece. E Zain. O que falar de Zain? Zain é um poço de contradições no primeiro momento, mas ao observarmos com calma, vemos que é um jovem que tem sonhos e inseguranças quanto ao futuro e que tenta fazer o melhor possível dentro das circunstâncias que o rodeiam. Isso não quer dizer que o leitor não passa por momentos frustrantes com ele. Pelo contrário. Queremos socá-lo e dar um abraço ao mesmo tempo.
A verdade é que por trás de todos esses elementos magníficos temos um grupo de jovens tentando enfrentar seus medos, seus legados, as expectativas de seus familiares para realizar seus sonhos.
A editora Jangada realizou um ótimo trabalho. Revisão, diagramação e layout estão impecáveis e a capa, sem dúvida, chama a atenção.
"As Caçadas Selvagens eram competições acirradas entre os alquimistas, criadas pelo primeiro monarca de Nova, o rei Auden, com a finalidade de encontrar a melhor proteção para um membro da família real, quando este se encontrava em perigo mortal." (p. 20)