Pandora 17/09/2019Yoko Ogawa é uma escritora japonesa de ficção e não ficção muito premiada em seu país. Desde 1988 ela vem arrebatando prêmios e alguns de seus livros foram adaptados para o cinema e traduzidos em vários idiomas.
Eu já li alguns autores japoneses: Yasunari Kawabata, Hiro Arikawa, Jun'ichirō Tanizaki, Banana Yoshimoto e Ryūnosuke Akutagawa. Em todos, as referências à cultura do país eram muito claras e fortes; não é o caso deste “O museu do silêncio”. Isso não é um desabono, apenas alerta que se o leitor procura por regionalismo neste livro, não vai encontrar.
O Japão é um país de contrastes. Nele convivem o velho e o novo; o atual e o ancestral; o antiquado e o moderno. As crenças japonesas ligam o homem à natureza, numa relação de respeito. Alguns destes elementos são óbvios aqui, outros mais sutis. Mas de todos os livros de autores japoneses que li, este é o, aparentemente, menos japonês. Aparentemente.
A história é a seguinte: um famoso museólogo viaja até uma pequena cidade distante a fim de trabalhar no projeto de um novo museu. Na estação de trem, ele é recebido por uma moça bem jovem que o leva até uma mansão decadente onde sua contratante, uma senhora extremamente velha e mal-humorada o entrevista. Ela é tão grosseira, que ele tem certeza de que não passou no teste, mas está enganado. A partir daí ele passa a morar no terreno da mansão, ao lado do jardineiro e da governanta, que são, além da menina (filha adotiva da senhora) e da velha, os únicos habitantes do casarão. A velha passou a vida coletando objetos dos mortos da cidade e agora ela quer inaugurar um museu, o “Museu do Silêncio”, para exibi-los.
Nesta narrativa ninguém é nomeado: nem os personagens, nem a cidade onde a história se passa. A época também não é explícita: apesar de carros e motos serem citados, não há celulares, por exemplo. A escrita é simples e fluída, com muito diálogo e há espaço para o real e o fantástico.
É uma narrativa muito simbólica e que não se preocupa em esclarecer as coisas. Manda pensar. Um tipo de literatura que eu aprecio, mas talvez porque eu ansiasse por algo mais misterioso e assombrado, não me tocou tanto quanto eu esperava.
De qualquer forma, quero ler mais Yoko Ogawa, tanto que já tenho à espera “A fórmula preferida do professor”.
Um ponto positivo: dá pra ter uma ideia do trabalho que é montar um museu.
Um ponto negativo: eu realmente necessitava que a autora esmiuçasse a história do jardineiro.
Um ponto essencial: tradução direta do japonês.