fanny.Dyatlov 03/12/2022
VIRGÍNIA WOOLF EU TE VENERO.
"(...) os sexos se misturam. Em cada ser humano ocorre uma vacilação entre um sexo e outro, e frequentemente são apenas as roupas que sustentam a aparência masculina ou feminina, enquanto, por baixo delas, o sexo é o oposto do que se vê na superfície."
O meu "primeiro contato" com Virginia Woolf, Se eu fosse dizer que fiquei surpreso com a complexidade deste livro, estreia mentindo. Mas acho que no fundo eu esperava uma história "normal", e quando digo normal, me refiro a todos os pontos de vista que se impõem a uma narrativa literária.
Mas aqui, temos algo totalmente diferente.
Orlando pode ser considerado uma biografia autoficcional e, de fato, examina como o ser humano tem a capacidade de ressoar tanto com a psicologia feminina quanto com a masculina. O autor constrói, por meio da personagem, um ser que consegue simpatizar com ambos os sexos, do ponto de vista fisiológico, sem questionar a própria natureza intrapessoal.
Por meio dessa personagem, Woolf questiona a estabilidade do padrão de gênero, imposto socialmente, provando que a noção de gênero não é um fato absoluto, mas uma noção temporal e cultural, em eterna evolução.
Woolf fala sobre androginia além da conotação física do conceito, além do nível superficial:
"Ser simplesmente homem, ou simplesmente mulher, é verdadeiramente fatal - uma pessoa deve ser um homem-mulher ou uma mulher-homem."
Embora Orlando seja um personagem que pode despertar humor, - o substrato de Woolf, neste romance, levanta uma questão séria sobre a noção de gênero. Utiliza peças de puzzle cuidadosamente escolhidas, em que a imagem final é um desmascaramento do ser andrógino, em toda a sua complexidade. Temos, por fim, uma visão moderna do indivíduo, de natureza bastante fluida, exemplificada pela mudança de gênero do personagem, mas com a preservação de sua personalidade, da essência que realmente faz Orlando.