Tamirez | @resenhandosonhos 21/08/2018Divina VingançaQuando eu resolvi ler essa trilogia, a curiosidade veio exclusivamente do título que ela recebe. Porém, depois de ter conhecido Ismae em Perdão Mortal, a decisão de continuar lendo veio do potencial da trama e de toda a sua ligação com a história real da Bretanha.
No primeiro livro conhecemos nossa protagonista e mais duas garotas no convento: Sybella e Annith. Ao longo do livro cruzamos com elas, mas é Ismae quem comanda a narrativa. Aqui, assim como no terceiro, a protagonista muda, e vamos ver o mundo com os olhos da problemática Sybella. A garota atormentada e difícil de disciplinar que tínhamos ouvido falar.
Porém, ao contrário do que foi feito em Perdão Mortal, em que o livro começa nos contando a história de origem de Ismae, para que logo da cara criemos empatia com a personagem, em Divina Vingança os maiores segredos sobre Sybella ficam para o final. Isso não é de todo ruim, entretanto, como a garota tem uma personalidade difícil, é bem complicado simpatizar com ela e se importar da mesma forma como ocorreu no livro anterior.
“Quando a morte de uma pessoa se aproxima, sua alma amadurece e se prepara para ser colhida.”
Sybella está o tempo todo nos dizendo o quanto há algo errado e do quanto ela não é merecedora de qualquer carinho ou amor a ela dedicado por tudo o que “já fez”. Há uma constante vitimização também, sobre coisas do passado. Ela quer passar de durona, mas sabemos que por dentro é diferente. Porém, como vamos recebendo as informações em migalhas, nada parece o suficiente para tamanho drama. Até que no final descobrimos tudo o que realmente ocorreu e a dor dela se torna completamente justificável.
Mas, até lá, um longo caminho foi percorrido, em que travamos uma batalha com Sybella sobre a sua postura com a missão e as pessoas envolvidas. Talvez o propósito tivesse sido exatamente esse, fazer com que o leitor se redimisse ao final, por não gostar tanto dela. Mas é uma técnica arriscada. Não simpatizar com o narrador é fator que faz muita gente desistir da narrativa. E, se soubéssemos mais sobre ela no começo, repetindo a técnica usada com Ismae, mesmo escondendo o final, a transição pelo livro seria bem mais agradável.
Além de encontrarmos Ismae, Duval e a Duquesa novamente em Divina Vingança, também reencontraremos um personagem que cruzamos no primeiro livro, mas que já marcou pela intensidade e importância: a Fera de Waroch. O destemido guerreiro com o rosto marcado pela batalha é peça chave nesse livro, e vai proporcionar as melhores e mais divertidas cenas em contra ponto com a falta de simpatia de Sybella.
Foi muito bacana ver as histórias se encontrando, já que quando comecei a leitura não sabia exatamente onde estaria. Não será a mesma trama de outro ponto de vista, mas sim uma passagem de bastão. Ismae entrega a narração para Sybella e seguimos em frente, com outra perspectiva.
Como no primeiro livro, mantém-se aqui um elo com a história real da Bretanha. O conflito, a duquesa e D’Albret são personagens reais e históricos, e isso é uma das coisas que mais me fascina nessa trama. Mesmo com a inserção de um elemento mágico, LaFevers conduz a narrativa intercalando o seu mundo com os eventos que aconteceram, mudando detalhes, encurtando períodos, dando novos nomes, mas mantendo o background para dar peso a história.
Algo que é importante comentar é a forma como cada uma das servas de Mortain lida com sua relação com o “pai”. Em Perdão Mortal vimos Ismae redescobrir o significado de seu dom. Em um encontro cara a cara com o Deus da Morte, ela entendeu que o significado daquilo que fazia ia muito além da visão falha da superiora do convento e que nem tudo o que ela mandava fazer dizia respeito exclusivamente aos desejos Dele. Ela entendeu que seu pai também era misericordioso e que o que seu coração mandava era mais importante do que uma ordem ou uma marca.
“Se tivessem me ensinado a ver inocentes morrer tão bem quanto me ensinaram a matar, eu estaria muito mais preparada para o pesadelo no qual fui jogada.”
Aqui Sybella passará por uma jornada parecida, porém seus conflitos são diferentes. Ela já tinha matado antes de se aliar ao Clã, ela é boa nisso e até sente prazer no serviço, coisa que nunca aconteceu com Ismae. Sybella é muito devota de Mortain, acredita nas marcas, mas questiona muito a superiora, o que de certa forma a faz questionar sua missão e a relação do Deus da Morte com tudo isso. Ela também terá seu momento de clareza ao longo do livro, e é uma cena muito bonita. Como ela já esteve perto da morte outras vezes, ela sempre achou que seu “pai” a rejeitava ao mandá-la de volta e a relação que ela tem com isso é muito forte.
A narrativa de LaFevers segue muito fácil e achei esse livro menos denso que o primeiro. Acredito que por eu já conhecer o contexto, a forma como caminhei pela história foi mais fácil e a leitura foi rápida. Esse é o menor livro dos três e mantém o padrão nas capas, de apresentar sempre a protagonista do volume. O terceiro e último livro, Amor Letal, trará a história de Annith, a garota remanescente que ficou presa no convento e que pelo que sabemos, não quer o destino que lhe é imposto.
Divina Vingança é uma boa continuação, apesar de nos apresentar uma protagonista menos cativante. Não há grandes quebras na narrativa e é fácil seguir de onde paramos. Se você curtiu o primeiro livro ou gosta de livros com background histórico, a trilogia do Clã das Freiras Assassinas é uma boa escolha.
site:
http://resenhandosonhos.com/divina-vinganca-robin-lafevers/