Bia 15/11/2020
Boa leitura para dias de preguiça
[EDIT DEZEMBRO 2021] O diretor japonês Ryûsuke Hamaguchi adaptou 3 contos desse livro no filme Drive My Car. É óbvio que o primeiro conto do livro é o fio condutor do filme, porém vemos onde entram Sherazade e Kino também. Fica aqui a recomendação do filme, até mais do que do livro! Muito bem conduzido, com a mesma fluidez da escrita de Murakami e adições super interessantes ao roteiro.
Apesar de não ser o auge de Murakami, foi uma boa leitura. É um livro gostoso de ler, flui tão bem, perfeito para dias de preguiça em casa. Recentemente eu tenho me desencantado com a cultura japonesa, e consegui nesse livro consegui ver bastante do machismo e do conformismo que me incomodam. Ainda assim, vale a pena ler.
Conto 1 - Drive My Car: 3,5/5
Achei que o conto começou muito bem, mas o final foi meio sem graça... Um conto sem um propósito claro.
Conto 2 - Yesterday 4,5/5
Ahhh gostei demais desse conto! Não que isso seja de total mérito do conto, mas sim porque lembrei demais do curso que fiz em Kansai (que saudades...). Mas analisando o conto mesmo, amei como Murakami trouxe elementos culturais do Japão de maneira leve, além de ter criado personagens com quem me identifiquei muito.
Conto 3: Órgão Independente - 3,5/5
Não sei bem o que dizer... Sensação parecida com a do primeiro conto: leitura agradável, mas não passou disso. O melhor que tirei da leitura foi um paralelo que fiz com o livro sul-coreano 'A Vegetariana'. Os personagens principais dessas 2 histórias entram em uma depressão tão profunda que passam a desejar ser uma planta. Pelo menos a protagonista de 'A Vegetariana' tinha um motivo válido para isso, depois de tantos abusos... Saí desse conto valorizando mais o outro livro.
Conto 4: Sherazade - 1,5/5
De longe o pior até agora. Toda vez que peguei o livro pra ler durante esse conto, me distraía facilmente e acabava dormindo depois de poucas páginas. A estranheza dos personagens me afastou deles ? uma mulher que fica relembrando de quando era uma lampreia? Um homem que não pode sair de casa, numa vibe meio ficção científica? Achei um pouco forçado e sem pé nem cabeça. Sei que o Murakami usa elementos surreais e os trata como se fossem normais, mas em geral esses elementos acrescentam valor à história. Aqui pareceu ser elemento surreal só por ser surreal. O único ponto positivo é que fiquei curiosa com os próximos episódios das histórias da Sherazade, igual ao Habara ? pena que as histórias foram decepcionantes
Conto 5: Kino - 4,5/5
O melhor conto do livro, na minha opinião. É uma amostra bem construída do que Murakami tem de melhor. A descrição do bar é tão perfeita que consegui me sentir lá, observando os personagens, ouvindo jazz. O personagem principal, Kino, também é um ponto alto do livro. A identificação que senti com ele foi grande. O conto introduz elementos fantásticos e surreais; o mais interessante é que esses elementos foram bastante metafóricos e simbólicos. Com certeza me fez refletir bastante e repensar comportamentos que tenho.
Conto 6: Samsa Apaixonado - 2/5
Uma espécie de continuação de A Metamorfose. Já tentei ler o romance de Kafka 3 vezes, mas realmente não me prende. Acabei desenvolvendo um bloqueio com o livro e com outras histórias que fazem referência a ele. Achei a ideia de Samsa voltar a ser humano bem legal, mas o conto em si não me agradou.
Conto 7: Homens sem Mulheres - 4/5
Amei o tom autobiográfico do conto. Não sei se realmente o é, mas sei que me senti conversando com Murakami. As reflexões são bonitas e poéticas, sente-se a dor daquele narrador. Alguns trechos achei um pouco desnecessários (passagens de cunho erótico) e outros confusos (analogia com marinheiros), mas não comprometem o geral da obra.