Adriana Pereira Silva 01/12/2019
Somos a média das 5 pessoas com as quais mais convivemos, produtos do meio
“Êxtase da transformação” relata as consequências advindas da 1ª Guerra Mundial na vida de pessoas que viviam em meio a ela na Europa, tendo participado ou estado ao lado de todos os acontecimentos e sofrido com o que dela restou e se mantém em seus meios. Mostra o seu impacto no meio e o cenário de miséria que assolou incontáveis famílias e o contraste com o mundo da alta burguesia.
Narra a história da inocente Christine, uma moça de 28 anos que nada vivera de feliz na vida, apenas perdas, de pessoas durante a guerra e devido a ela, e de posses, fazendo com que ela e a mãe ficassem privadas dos mais elementares bens materiais para poderem viver.
Christine é convidada pela tia que mora nos EUA, a passar as férias onde ela se encontra, num imponente hotel na Suíça, nas redondezas de Pontresina. Ela acaba sendo convencida pela a mãe a ir e poder descansar, pois há dez anos trabalhava e nunca havia tirado férias. Aceita e parte para viver uma nova realidade que muda toda sua vida.
No hotel descobre um novo totalmente novo para ela, que em sua inocência, era outro mundo com pessoas diferenciadas, onde não podia haver tristeza ou sofrimentos. Mas tudo não é bem assim, e com isso, descobre, bem amargamente, que não faz parte dele, mas sim de outro mundo, da miséria, pobreza e privação de sonhos.
“algo está acontecendo, [...] algo que a consciência em sua paralisia não entende, e é o seguinte: aquele novo ser, o outro, aquele ser artificial e duplo dos nove dias de sonho, aquela irreal e, no entanto, bem real senhorita Von Booler, está agora morrendo dentro dela. [...] Já não faz parte dela, nada daqui, deste outro mundo, superior, mais ditoso, agora faz parte dela, tudo agora se tornou estranho e emprestado como no primeiro dia.” (p.146)
“ela deve novamente entrar naquela pessoa morta, a Hoflehner!” (p.147)
Retornando à realidade do mundo real, não mais será a Christine antiga, agora, o que resta é o ódio por tudo e por todos, “de si própria e dos outros, da riqueza e da pobreza, de toda a vida, pesada, insuportável e incompreensível.” (p.158)
E com o tempo passando, descobre as alternativas que lhe restam e que se revelam à sua frente, definindo seu destino.
De toda essa história, o que fica como reflexão: o quanto a riqueza pode transformar, para o bem e para o mal. E o quanto o ser humano é capaz de se transformar e guardar mágoas e ódio diante do mundo. E o que isso pode fazer com uma pessoa. É o poder da sedução e o que isso pode nos transformar que é o perigo. E, assim, o quanto temos que estar atentos com o que as ilusões e decepções podem fazer conosco mesmos.
“É possível sentir falta de um lugar e, ao mesmo tempo, saber que jamais passaremos por seus portões, seja porque não pertencemos à classe certa ou não temos a cor de pele certa, a nacionalidade certa. Este é o cenário em que a nostalgia se transforma em ódio. Este é o cenário em que o paraíso se transforma em inferno.” (Aylet Cundar-Goshen)