Tatah 02/01/2016
Miguel, o perfeito descascador de palhaço
Ok, eu estou velha. Não sou a mesma Tatahzinha que leu no auge da pré-adolescência todos os livros dos Karas... então é difícil avaliar esse livro, porque eu acho que ele tem muitos³ problemas.
Honestamente: quando lia os flashbacks, eu, me colocando como aquela Tatahzinha, gostei do que li. É pior que os livros das aventuras anteriores? É. É péssimo? Não tanto nos flashbacks. Tem alguns problemas de continuidade com o que já foi mostrado, e muita insistência em repetir que o Chumbinho é importante e demorou pra entrar no grupo (sério, a mesma frase sobre o Chumbinho aparece em três capítulos diferentes). Mas ainda é legalzinho de ler, nas devidas proporções de "inocência".
O livro fica tosco nas partes dos "tempos atuais" mesmo, que é a narração de Miguel. Primeiro, o jeito que Miguel fala de Magrí e Peggy... erhm, não quero ler isso? Em um momento do flashback Miguel acorda de um sonho e corre direto pro banheiro. Oloco. Nada contra escrever isso, faz parte da vida, mas gente? Os Karas eram aqueles jovenzinhos idealizados, não tinha essa vibe nem no Droga do Amor.
Aliás, é a idealização desses personagens que destrói totalmente o livro. Quando jovens, ao ler essas aventuras doidas, toda vez os próprios personagens diziam ou percebiam o quanto tudo aquilo era doideira e fora da realidade, e claro, eles eram idealizados - mas quem lia se via como uma possiblidade daquela idealização. Então você navegava com eles por esse sonho impossível mas que dentro do coraçãozinho se tornava crível... A coisa mais bela a ser feita, e que eu esperava nesse livro, era colocar o verdadeiro significado nostálgico dessa sensação que todos temos com nossa juventude: tudo era melhor, bom e idealizado, exatamente porque a realidade atual é SEMPRE mais dura. E tudo isso cai por terra quando você tem que ler que os Karas se tornaram mega super gênios perfeitos irreais na vida adulta.
Eu até aceitaria Miguel se tornar o que se tornou, mas Chumbinho virar O MAIOR gênio da computação, Magrí A MAIOR médica da história, Crânio o MAIOR cientista, Calú O MAIOR ator do milênio e até meter a Peggy como A MAIOR política do planeta? Não dá. Não tem como todo mundo se tornar perfeito. Os personagens subiram num pedestal que os destacou totalmente da realidade, e assim da identificação com o leitor. Quando jovens nós nos imaginávamos naquelas aventuras, no lugar de Magrí, Miguel, etc; mas agora adultos sabemos mais da vida pra sequer cogitar essa situação. E para os jovens hoje... bem, das duas uma: ou vai ser um desserviço que promove um futuro irreal idealizado quase ridículo ou vai perder todos os leitores, já que os mocinhos e mocinhas de hoje sabem mais da vida e tão mais cínicos que antigamente.
Dureza. :(
E ah, SPOILER: Magrí casar com Miguel e Crânio ficar no recalque até velho? Que isso gente. A vida anda. Pra mim o ideal seria todo mundo terminar com gente nova, ou Crânio ficar com Magrí. Miguel já era o líder, ficar com a garota é "perfeitinho" demais. Mas né. Taí o problema do livro.
Só aceito que o fato do Crânio ainda estar "sozinho" seja porque ele descobriu tardiamente que é gay. Aí sim eu veria um pouco de realidade huhu.