Joao 28/06/2024
Como um Machado, mas diferente.
Claro, apesar do título que dei, Cândido tem uma proposta outra que das obras do Machadão. Aqui temos uma narrativa filosófica, em que, pela prosa e ficção, Voltaire argumenta contra um filósofo otimista (stricto sensu). Certamente, Voltaire pensou que fazê-lo num ensaio filosófico não seria tão aprazível quanto literariamente. Escolha brilhante.
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Cândido reside no melhor castelo de todos, não é filho direito do "rei", mas tem certo parentesco. Seu mestre a ele ensina que, independentemente das causas e dos efeitos, tudo se dá para o melhor possível, isto é, o situação em que estamos é sempre a melhor possível, senão nos levará a isto. Contudo, por conta duma causa e dum efeito curioso (ele é pego beijando a Cunegundes, filha do "rei", pelo próprio kkkk), ele é expulso do melhor castelo do melhor mundo, e o pior: longe da filha do rei, que é a sua bem-amada. Mas ele vai voltar para ela, enfrentando uma miríade de presepadas. O resto da estória, só lendo para saber.
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O que o livro é de fato? Uma resposta ao Leibniz, famosíssimo polímata alemão, cuja filosofia otimista é representada pelo mestre Pangloss. Com efeito, na época de Voltaire, alguém otimista era muito mais próximo desta filosofia que de alguém que busca não pensar negativamente (o que é bem análogo, porém); e esta estória é uma resposta a ele. Filosofando, algumas pessoas desprendem-se do mundo em que vivem de tal modo que tornam a sua filosofia no seu mundo, enquanto ignoram o mundo real, e os seus jardins.
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Livro divertidíssimo, fluído, interessante e útil, quem diria. Recomendo a todos, sobretudo a quem já leu Machadão. São prosas semelhantes: com capítulos curtos, diretas ao ponto, cômicas, irônicas, mas prenhes de significado. Muito bom.