Sueli 14/02/2014
A Garota Que Ficou No Meu Coração
Ando com esse bovarismo rondando as minhas escolhas. Esse “querer descarado” de querer apenas coisas bonitas, simples, alegres e agradáveis. Converso com amigas, e não tenho nenhum pudor em confessar que meu coração é totalmente vagabundo, mas nem por isso menos sensível. Assim como não sou imune à beleza, ou aos encantos que a vida nos proporciona. E, entre as coisas que amo estão as artes de maneira geral, e um dos meus artistas plásticos favoritos é Gustav Klimt.
Portanto, quando assisti a um documentário sobre o processo de restituição dos quadros pintados por ele, e que pertenciam originalmente à família Bloch-Bauer, e que foram roubados durante a ocupação alemã, no primeiro grande conflito mundial, me senti tão perturbada que não consegui, até hoje, ter uma opinião formada sobre a sentença que obrigou o governo austríaco a devolver parte do acervo roubado à família Bloch-Bauer.
O que a princípio me pareceu uma sentença justa, já que as obras pertenciam aos Bloch-Bauer, tirou de todos nós a possibilidade de apreciar esses quadros tão belos e que até o momento da devolução estavam expostos em um museu vienense. As obras, depois de restituídas aos herdeiros, foram postas imediatamente em leilão e vendidas para um colecionador particular, onde ficarão para sempre longe de nossos olhos.
Vocês devem estar se perguntando o motivo de todo esse blá-blá-blá... Acontece que o livro “A Garota Que Você Deixou Para Trás” trata das questões jurídicas que envolvem um quadro que supostamente foi roubado da aldeia de S. Péronne, durante a ocupação alemã, na Primeira Grande Guerra.
Eu imaginei que haveria a mesma pátina de tristeza que havia encontrado em outro livro da Jojo Moyes que li, “Como Eu Era Antes de Você”, e que me emociona até hoje. Pensei encontrar uma história onde a mocinha seguisse em frente, após uma perda devastadora, mas nada havia me preparado para o que encontrei em “A Garota Que Ficou Para Trás”. Foram dias angustiantes, de profunda tristeza e agonia, mas ao mesmo tempo de um fascínio assustador e viciante.
Várias vezes eu me propus a abandonar a leitura, mas já estava presa, enfeitiçada pelo relato aterrorizante da vida dessas mulheres tão distantes de mim, tanto no tempo, como na força com que lutam por suas escolhas. O quê uma grande escritora, com uma grande história não faz conosco, não é mesmo?
Sophie e Liv são mulheres que não titubeiam quando o julgamento incorreto de suas ações as excluem e as afastam de todos aqueles que paulatinamente as assassinam moralmente, até mesmo as pessoas nas quais elas depositam o seu afeto e confiança. Até mesmo a chance de se defenderem de acusações caluniosas e inverídicas lhes foi negada. Essas mulheres, afastadas por quase um século, sofrem a mesma solidão dos injustiçados.
Jojo Moyes é uma escritora fascinante, ela deixa todo o conflito do livro para nós, os seus leitores. Em muitas ocasiões nos veremos torcendo para que Sophie e Liv mudem as suas escolhas, ou tentando não julgá-las por seus atos.
Acompanharemos a trajetória de Sophie, uma bela e confiante mulher, que foi retratada brilhantemente, e com todo amor, em tela, por seu marido – o quadro em questão - desde a sua juventude, plena de vida, até ser transformada em nada mais que um corpo à beira da morte, coberto de sangue e infestada de piolhos. Li a morte sobrepujando a esperança que a motivava em sua busca, e li a hora em que ela conhece a sensação de resignação pelo seu próprio destino, de uma forma brilhante, e com um desfecho inesperado e magnífico.
Quase não me comuniquei durante a leitura deste livro, apenas o necessário, pois estava ansiosa para saber o final, e a todo instante lembrava-me que a Tonks nos disse que era feliz...
Segui em frente, tateando, fechando o livro quando eu estava tão emocionada que sentia minhas mãos tremerem. As lágrimas em meus olhos, e minha garganta ardendo pelo choro contido. E, tudo isto por ter acreditado e torcido firmemente pelos personagens tão bem construídos por Moyes.
Duas histórias paralelas e com muitas similaridades. A primeira começa em St. Pèronne, 1916, mas com alguns flashes do começo do relacionamento entre Sophie e Édouard, em 1914. E a segunda, em Londres, 2006, onde iremos conhecer Liv, uma triste viúva, de trinta anos, que em sua ânsia de preservar seus bens, acaba por perder tudo, menos a esperança e amor de Paul, um americano, divorciado e que coloca o mundo de Liv de pernas para o ar.
Se você acha que contei muita coisa sobre “A Garota Que Você Deixou Para Trás”, posso lhe garantir que você não tem ideia do mundo que é este livro!
Não tenho nenhuma dúvida de que este livro daria um filme magnífico. Fiquei tão emocionada como quando assisti “A Lista de Schindler”. E, imagino que eu deva ter lido os dois livros mais impactantes de Jojo Moyes... Leia e aprenda as lições contidas nesta história, eu garanto que você não vai se arrepender, além de adiantar que foi um dos finais mais lindos e emocionantes que já nos últimos anos.
Não posso deixar de comentar sobre a capa que achei parecidíssima com a do livro “Como Eu Era Antes de Você”. Concordam?
Parabéns à Editora Intrínseca por mais esse lançamento espetacular.