CooltureNews 14/09/2013
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Os 500 é o primeiro livro do norte-americano Matthew Quirk e, sem sombra de dúvidas, pode-se dizer que ele estreou com o pé direito. O livro tem, sim, alguns pontos negativos, mas falarei destes mais adiante. Vamos aos pontos positivos primeiro e, para apresentar eles, nada melhor que um resumo da estória.
Aqui conhecemos Mike Ford, um jovem norte-americano cujo passado está envolto na mais pura e simples bandidagem. Embora nunca tenha sido considerado um legítimo delinquente juvenil, sua adolescência em Washington foi recheada por furtos e pequenos golpes, habilidades aprendidas meio às escondidas observando o pai, um excelente golpista, capaz de passar a lábia facilmente em muitas pessoas. Quando o pai de Mike é preso por assassinato, a estrutura familiar se dissolve. Mike consegue sobreviver e então decide reescrever sua estória. Ele cresce, abandona a bandidagem, corre atrás dos estudos, encara duas faculdades ao mesmo tempo (direito e política) e persegue com ardor um futuro honesto e bem sucedido, fazendo esforços imensos para alcançar seus objetivos e resistir à tentação de pagar as contas com alguns furtos.
Quando está prestes a se formar, Mike é contratado por Henry Davies. O grupo Davies é a mais importante empresa de consultoria em Washington. Mike tem uma ascensão meteórica, galgando muitas posições em poucos meses de trabalho. O trabalho é árduo, mas o pagamento é muito generoso e, além do dinheiro, Mike conhece Annie, a garota que sempre pediu aos céus. O futuro se estende brilhante à sua frente, e nem o fato do pai ter saído da prisão e estar tentando reatar os laços, parece ser capaz de manchar essa perspectiva. Mike finalmente sente que todo o seu esforço em levar um vida honesta e séria está para ser recompensado. E neste ponto ele começa a descobrir que as atividades do grupo Davies vão um pouco além da “consultoria empresarial”. A estória parte da premissa de que na capital dos EUA existem 500 homens cuja influência é realmente decisiva. Grande parte do verdadeiro trabalho no grupo Davies consiste em ficar perto deste grupo seleto e conseguir rastrear qualquer vantagem política que possa ser explorada. Como dá para imaginar, muita água suja corre por debaixo dessa ponte.
O livro é honesto desde o princípio: Já descobrimos logo na primeira página que as coisas estão ruins para Mike. Eis aqui uma característica muito boa da prosa do autor, de cara ele joga uma situação complicada no colo do leitor, neste caso no prólogo, para só depois ir explicando como é que as coisas chegaram ali. E é muito interessante ir descobrindo aos poucos como foi toda a trajetória da vida de Mike, sua adolescência conturbada, a família em ruína, e todo o seu esforço sobre humano para ser o melhor, ao mesmo tempo em que vamos acompanhando a trajetória dele no grupo Davies, na qual ele consegue contornar situações totalmente inesperadas com soluções mais inesperadas ainda.
Matthew Quirk faz um trabalho muito bom em tornar o personagem de Mike Ford carismático: É impossível não nos empolgarmos junto com Mike quando a situação financeira e amorosa de sua vida começa a melhorar. Realmente me surpreendeu como um assunto que tinha tudo para ser chato, no caso o mundo corporativo de uma grande empresa, acabou sendo tratado de uma forma muito instigante e envolvente.
E como o leitor já deve ter percebido, nem tudo é honesto no mundo do grupo Davies. É aqui que o livro fica bom mesmo, pois em pouco tempo Mike começa a ter que usar algumas das estratégias de seu passado negro. A linha divisória ente honestidade e bandidagem de alto nível começa a falhar rapidamente. Quando a coisa degringola de vez, lá pela metade do livro, já estamos tão envolvidos com o personagem que fica difícil não se preocupar com o futuro de Mike. A situação fica tão complicada que Mike não consegue mais decidir entre fazer o correto e aceitar as ordens de seus chefes. Começa então um jogo de gato e rato bem perigoso, que assume proporções grandes como a capital norte-americana e que nos conduz a um final daqueles em que é impossível parar de ler.
Apesar de ser uma narrativa muito boa com personagens carismáticos e muito bem desenvolvidos, o livro apresenta dois problemas pontuais. O primeiro relaciona-se mais ao meio da estória, quando Mike começa a descobrir o lado “negro” do grupo Davies. A princípio ele tem uma atitude de total descrença e dúvida do que começa a descobrir. Isso para mim ficou difícil de aceitar, pois desde o princípio Mike sabe e fala que o jogo de influências políticas é “cinza”. O próprio fato de ele ter que recorrer a alguns de seus métodos sujos de sua adolescência pouco honrável deixa explícito o conhecimento dele “das regras do jogo”. O comportamento dele de “Meu Deus, eles não podem ser assim tão desonestos!” simplesmente não combinou com o restante do contexto. Menos mal que isso dura pouco.
O segundo problema relaciona-se ao próprio estilo do livro, que prefere uma prosa de ação rápida, contribuindo para um ritmo frenético adequado. Contudo isso acaba ficando um pouco ruim no final: Mike faz tanta coisa mirabolante nas últimas cinquenta páginas que fica a impressão de que a ação deveria ser um pouco menos corrida. Sabe quando o personagem faz uma coisa tão legal, mas tão legal mesmo, que você queria ter mais detalhes a respeito de como ele conseguiu fazer aquilo, e o livro simplesmente não satisfaz a sua curiosidade? Então...
Contudo, esses problemas são pontuais, e não atrapalham em nada a leitura de Os 500. Sua narrativa é muito bem construída e o desfecho é bem cinematográfico. Não me surpreende nada que, conforme dito pela orelha do livro e pelo website do autor, o mesmo esteja sendo adaptado para o cinema. Com certeza vai render um belo filme de ação e conspiração. Matthew Quirk pode ter errado um pouquinho na “pureza” de Mike, e alguma cenas realmente mereciam mais linhas, páginas talvez! Mesmo assim, o autor pode ficar orgulhoso, pois seu nome já está mais que inscrito no radar de autores que entregam, e muito bem, aquilo que prometem: Um livro de ação envolvente e muito gostoso de ler. Lembrem-se desse nome!
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