Rafael 07/09/2022
Como se quebrou a fórmula Dan Brown.
Um dos pontos essenciais para a escrita de um livro é identificar sua identidade. Não no quesito de gênero, se é de terror, fantasia ou suspense, mas se ele sabe realmente o que está propondo ao leitor, e se esse caminho até o fim, contempla ou não o que nos foi proposto no argumento.
Em Inferno, Dan Brown nos apresenta inicialmente, a uma variação interessante (mas batida) de sua fórmula de suspense, ao misturar a amnésia de sua personagem principal, ao entremeado de acontecimentos históricos na busca de um objetivo de suma importância para a humanidade. No entanto, seu desenvolvimento e o progresso narrativo parece travado, como se o carrinho de sua montanha-russa de suspense, responsável pelas reviravoltas necessárias para esse género, estivesse rangendo, enferrujada, e com uma velocidade de 5km/h na descida.
Diferente de seus outros livros, o progresso truncado prejudica muito o sentimento de continuidade e retenção, que temos ao ler um bom suspense. Aqui, a perseguição das personagens por pontos históricos parece pequena e desproporcional ao que a trama se propõe, muitas vezes passando por cenas de ação mal construídas, que nem ao menos conseguimos enxergar com totalidade, o cenário em que fomos colocados. Ou jogados.
A má estruturação do roteiro como um todo, também pode ser vista nas reviravoltas sem sentido que aparecem aos montes quanto mais nos aproximamos das páginas finais. Todo mundo adora uma boa reviravolta, mas ela precisa fazer sentido, não anular tudo o que já foi escrito até aquele momento, e não tirar o peso do clímax final. As reviravoltas aqui fazem tudo isso, infelizmente.
A sensação que nos é passada aqui, no entanto, é que o roteiro foi construído como uma colcha de retalhos, onde duas partes que não se conectaram da história, agora se juntam em uma desculpa tão esfarrapada e brega, que nos faz virar os olhos, em um vislumbre de um dos seus principais pontos negativos seus primeiros livros.
A parte positiva fica para a construção do vilão e sua justificativa, que é a única coisa que se salva no roteiro em retalhos, mesmo que nos dias de hoje, também seja batida graças a Marvel.
Também é interessante ver o peso que A Divina Comédia, (poema clássico italiano, que se faz presente ao longo de todo texto) exerce sobre a trama e o seu desenvolvimento.
Ao final, fica claro que antes da construção de qualquer coisa é necessário uma fundação, e o entendimento do que vai ser apresentado para o leitor, antes mesmo das páginas iniciais.
Reviravoltas sem sentido e uma crise de identidade implacável condenam o caminho escolhido por um mar de irrelevância levando nós leitores a um verdadeiro inferno narrativo.