F de Foguete

F de Foguete Ray Bradbury




Resenhas - F de Foguete


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Michele Duchamp 29/05/2022

R de Norman Rockwell
Ray Bradbury é aquele tipo de escritor que quase não vemos mais: divertido, mas não infantil; sério, mas não infeliz; otimista, mas sem soar datado.

Quando decidi ler R is for Rocket, uma coletânea que eu lembrava do meu pai ter comprado na minha infância com o nome “F de Foguete”, resolvi unir o melhor das minhas expectativas: a sensibilidade de Ray Bradbury e a ficção científica da era de ouro.
Descobri que:
1- A era de ouro teve mais problemas que eu não havia percebido - e eu não preciso negar isso para conseguir me divertir com as histórias,
2 - Meu inglês está melhor do que eu esperava;
3 - ALGUMAS figuras femininas nesses livros mais antigos me incomodam do mesmo modo que imagino que a figura do Uncle Tom - caricatuta do negro subserviente aos brancos, feliz na sua condição inferiorizada - desagrade às pessoas negras. De novo, isso não me impede de apreciar as obras e inclusive de tê-las como favoritas, menos ainda vou cancelar autores - prática que acho prejudicial e não empática.

Às vezes eu penso que Ray Bradbury está por demais apaixonado pela visão dos anos nostálgicos e melancólicos da infância de meninos, da paixão de homens por foguetes ou hobbies que ele entende como masculinos, para desenvolver alguma crítica ou ver um lado negativo de algumas atitudes. Ele era um homem do seu tempo, afinal.

Quando vou reler algumas obras que li mais nova, procurando um mundo rico de imaginação e maravilhamento, constantemente me surpreendo que essas sensações até existiam em parte na realidade, mas em parte minha mente é que as havia criado e não a escrita do autor. Talvez não seja mesmo possível você voltar pra casa.

Ray Bradbury continua sendo, ao lado de Isaac Asimov, o maior de todos os autores sci-fi pra mim.

Enfim, como sempre faço nos livros de contos, um resumo dos mesmos:

1º conto: "R is for Rocket": Chris, um garoto de 15 anos, tem o desejo intenso de se tornar um astronauta. Porém, na realidade de Chris, os astronautas são escolhidos pelo Governo entre pessoas de até 21 anos, tudo o que se pode fazer é esperar e torcer para ser selecionado. Conto bastante nostálgico e centrado em nossas memórias de infância ( o próprio título remete aos livros de alfabetização). Bradbury puro. Nota: 4 estrelas.

2º conto: "The End of the Beginning": Um conto em defesa da exploração espacial, voltado àqueles que entendem a melancolia intrínseca das coisas. Um casal observa o primeiro foguete a sair em órbita da Terra, levando seu filho astronauta, enquanto o pai reflete sobre o que significa tudo aquilo. Nota: 3.5 estrelas

3º conto: "The Fog Horn": Dois homens trabalham em um farol. Todo ano o som do farol atrai uma criatura primeva, da época em que nosso planeta era recente, e nos ensina como somos novos como espécie. Nota: 4.5 estrelas.

4º conto: "The Rocket": Fiorello Bodoni sonha em ir para Marte, algo possível apenas para os ricos. À semelhança de João e o Pé de Feijão, ele gasta todas as economias da família com um foguete quebrado. Uma história para homenagear nossas lembranças de infância e levá-las a sério. Nostálgico. Nota: 3.5 estrelas.

5º conto: "The Rocket Man": A história que deu origem à obra-prima de Elton John. Um homem precisa se dividir entre sua vida como astronauta e seu tempo em família. Enfoca a sedução que o espaço exerce na mente dos seres humanos. A despeito do amor que tem pela mulher e filho, o protagonista não consegue deixar de passar longos meses longe, em um universo que tanto o atrai. A cada dia que passa, percebemos que a vida na Terra nunca vai satisfazê-lo; ele vai se isolando mais e mais cada vez que volta de uma missão no espaço. Elton John conseguiu melhorar o roteiro e transmitiu uma perfeita sensação de isolamento. Acho que porque achei a família de Bradbury anos 50 demais para mim, a mulher eternamente Penélope, o filho negligenciado. Mas o autor é sempre bom. Nota: 3 estrelas para o conto e 5 estrelas para Elton John.

6º conto: "The Golden Apples of the Sun": Piratas espaciais em uma missão para colher material solar. Nada com Bradbury é aventura pueril, mas sim uma plataforma para falar de algo mais profundo. Nota: 4 estrelas.

7° conto: “A Sound of Thunder: Conto presente em quase toda coletânea de contos do autor. O ano é 2055. A viagem no tempo não apenas existe, como ainda é utilizada para propósitos recreativos: que tal participar de um safári e caçar dinossauros? Pelo preço módico de mais de 100 mil dólares [valor que eu atualizei para os dias de hoje], é possível. Só não saia da trilha. Se estivesse nas mãos de um escritor mediano, seria uma curta história de ação, mas Bradbury sabe o que está fazendo e a história tem muito a oferecer, em diversos níveis. Nota: 5 estrelas.

8º conto: "The Long Rain": Uma característica que diferencia Bradbury de todos os outros escritores de ficção científica é que a imaginação é quem dita as regras das suas histórias, não a verossimilhança científica. Ele é quem está no controle pleno de sua criação intelectual. Uma tripulação de 4 astronautas sobrevive ao pouso catastrófico em Vênus, o planeta onde a chuva jamais pára de cair. Os astronautas procuram avidamente “the Sun Dome”, construído por humanos, uma espécie de oásis num deserto, o que salvaria as suas vidas. Nota: 5 estrelas.

9º conto: "The Exiles": Uma espécie de conexão com Fahrenheit 451, onde mostra uma das consequências do banimento de livros na Terra. O Planeta Marte vira local de exílio para escritores que tiveram seus livros queimados, até que astronautas chegam no local... Nota: 3 estrelas.

10º conto: "Here There Be Tygers": Com o planeta Terra em decadência, astronautas são enviados universo afora para procurar mundos colonizáveis. Como o programa espacial é muito oneroso, se a nave não voltar, simplesmente se assume que a tripulação foi morta e o planeta é hostil, não se mandando mais nenhuma outra equipe para o local. O Capitão Forester e sua tripulação chegam no planeta dos sonhos, onde tudo ocorre de acordo com o desejo deles. Apenas Chatterton, antropólogo e mineralogista, desconfia de que tudo é bom demais para ser verdade, tema clássico das Twilight Zones da vida. Mas aqui é Ray Bradbury, então espere algo um pouco diferente. Stephen King fez um conto homônimo, porém com um tema completamente distinto. Nota: 3.5 estrelas.

11º conto: "The Strawberry Window": Um casal havia se mudado para Marte com seus filhos, mas a mulher estava com muitas saudades do planeta Terra. Pra completar, o marido gasta todas as economias da família sem contar para a esposa, pois queria fazer uma surpresa. É o segundo conto nessa coletânea que o marido gasta o dinheiro da família sem ter a necessidade de falar com a mulher e filhos a respeito. Interessante ver como a sociedade mudou. No conto anterior, achei bonitinho, já nesse…enfim, aqui Bradbury pouco inspirado. Nota: 2 estrelas.

12º conto: "The Dragon": Dois cavaleiros medievais - até o inglês no diálogo deles é arcaico - lutam contra um dragão. E o que isso tem a ver com foguetes? Sem spoiler. Nota: 3 estrelas.

13º conto: "The Gift": É natal e os pais de um garotinho, ao embarcarem em um foguete, tiveram que deixar o presente dele na Terra por excesso de bagagem. Mas o pai tem uma ideia para não desapontar o filho. Bonitinho.. Nota: 3 estrelas.

14º conto: "Frost and Fire": Em um planeta onde a radiação permite que os humanos nasçam, cresçam, se desenvolvam, envelheçam e morram num espaço de tempo de apenas 8 dias, Sim, o protagonista, embarca numa jornada arriscada tentando resolver essa situação. Muito criativo. Nota: 4 estrelas.

15º conto: "Uncle Einar": Um conto que faz parte da Família criada por Bradbury que mais tarde viria a originar a Família Addams. O tio Einar possui lindas asas verdes, porém, devido a um acidente anos antes, não consegue mais voar à noite por ter perdido o seu senso de direção. Será que tem alguma chance dele poder voar de novo? Fofinho. Nota: 3 estrelas.

16º conto: "The Time Machine": Charlie conta aos seus amigos que descobriu uma máquina do tempo na casa do Mr. Auffman. Eles correm até lá para ver se isso é mesmo verdade. Poético. Nota: 3.5 estrelas.

17º conto: "The Sound of Summer Running": Douglas, um garoto, vê um par de tênis na vitrine de uma loja e fica fascinado por eles, mas seu pai não vê sentido em gastar dinheiro com sapatos novos. Então, ele precisa achar um meio de conseguir comprá-los. Nota: 3 estrelas.

Agora é colocar “S is for Space” na lista.

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Cristiano 13/01/2023

F de Fascinante
Cada capítulo melhor que o anterior, me fascina como o autor consegue nos levar para outros mundos, com realidades totalmente diferentes, mas mesmo assim manter uma relação cativante entre os personagens.
Em praticamente todos os capítulos existe pelo menos uma cena que nos faz refletir sobre as relações humanas.
Herta 17/01/2023minha estante
Tua resenha me fez ter vontade de lê-lo!!




Jerri 21/11/2014

F de Fantástico
Ray Bradbury faz parte da sagrada trindade dos escritores de ficção científica do século XX. Junto com Isaac Asimov e Arthur C. Clarke, ele ajudou a FC a atingir um status literário adulto e maduro. E se a FC lhe parece um mundo asséptico, frio e sem alma, Bradbury é o escritor que vai lhe mostrar o lado humano, lírico e onírico do gênero. Quando Spielberg realizou CONTATOS IMEDIATOS DO 3º GRAU e E.T., alguns críticos o chamaram de “o Ray Bradbury” do cinema. Neste livro de contos, Bradbury nos faz voltar ao tempo em que éramos astronautas, enfrentávamos dinossauros e quando um simples par de tênis novos nos fazia querer disparar na corrida mais veloz. A mais pura nostalgia do passado, do presente e do futuro em grandes pequenos contos.
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