Renata CCS 21/06/2016Livro que aproxima pessoas.
“Ler, ler, ler, viver a vida que outros sonharam!” (Miguel Unamuno)
Um livro encantador! É o que me ocorre de imediato para descrever esse romance que, devo confessar, já me conquistou pelo título: A SOCIEDADE LITERÁRIA E A TORTA DE CASCA DE BATATAS, escrito por Mary Ann Shaffer, uma bibliotecária estreante no ofício de escritora e por sua sobrinha, Annie Barrows. Como se o título não bastasse para me conquistar, imaginem a seguinte situação: você recebe uma carta de uma pessoa que leu um livro que já te pertenceu – e seu nome e endereço estavam no livro – somente para perguntar se você tem outro livro do mesmo autor para recomendar. Surge uma amizade por correspondência, com todas as afinidades e paixões que os leitores ávidos possuem em comum. E, a partir desta pessoa, você começa a se corresponder também com todos os amigos dele, moradores da ilha de Guernsey, de dependência da Coroa Britânica. Quem não gostaria de estar em uma história assim? É exatamente o que acontece com Juliet Ashton, uma jovem escritora de Londres que é apresentada à Sociedade Literária de Guernsey através de Dawsey Adams, um pacato morador daquela ilha.
“O senhor já notou que quando a mente é despertada ou atraída por uma pessoa nova o nome dessa pessoa surge de repente onde quer que a gente vá? Minha amiga Sophie chama isso de coincidência, e o sr Simpless, meu amigo pároco, chama de Graça. Ele acha que, quando uma pessoa gosta muito de alguém ou de alguma coisa, ela envia uma espécie de energia para o mundo, e isso dá frutos. Sinceramente, Juliet.”
O livro começa em janeiro de 1946, com o mundo finalmente respirando aliviado com o término da II Guerra Mundial, quando Juliet retorna de uma viagem e se depara com a carta em questão. É através da correspondência trocada com Dawsey que ela é apresentada à Sociedade Literária de Guernsey, um grupo de leitura que surgiu por causa de um pequeno incidente com os alemães durante a guerra. E para quem está se perguntando de onde vem a torta de casca de batatas do título, a receita foi uma invenção de um dos personagens, Will Thisbee, que se recusava a participar de qualquer reunião que não houvesse comida. Porém, com a escassez de mantimentos durante a guerra, a torta era feita basicamente de purê de batatas, beterrabas coadas para adoçar e coberta com cascas de batata. Apesar de ser composta de alguns ingredientes inesperados, a duvidosa torta acabou sendo a preferida daquele pequeno clube de leitores.
Dawsey apresenta a Juliet um grupo de personagens tão encantadores, comoventes, engraçados e bucólicos, com características tão peculiares, que é impossível não querer fazer parte dessa plêiade. Ainda mais para Juliet, que não se contentou em conhecê-los apenas por carta e resolve ir pessoalmente provar a famosa torta.
São todos imensamente marcados pelos horrores da II Guerra. De uma maneira leve, vamos sendo levados a conhecer as cicatrizes de cada um, deixadas em todos que viveram a experiência da ocupação alemã. Mas engana-se quem pensar que vai encontrar apenas drama na vida desses homens e mulheres. São personagens adoráveis que, apesar de suas dores e perdas, e de ter que lidar com um país destroçado, deixam lições surpreendentes e fascinantes. E a narrativa é descontraída e cercada do leve humor tipicamente inglês.
É uma história encantadora, comovente e repleta de ensinamentos e, apesar de clichê, me fez muito feliz. No fim das contas, é o que importa, não é?
Por fim, vale citar uma frase do livro da personagem Juliet: "Talvez haja algum instinto secreto nos livros que os leve a seus leitores perfeitos. Se isso fosse verdade, seria encantador". Lindo e perfeito!
“É isto que amo na leitura: uma pequena coisa o interessa num livro, e essa pequena coisa o leva a outro livro, e um pedacinho que você lê nele o leva a um terceiro. Isso vai em progressão geométrica – sem nenhuma finalidade em vista, e unicamente por um prazer.”