Luiz Pereira Júnior 20/05/2023
A fábrica das palavras...
“A fábrica dos sonhos”, da célebre atriz Janet Leigh (aquela que morre assassinada no chuveiro no filme “Psicose”), é um suposto retrato de Hollywood.
Digo suposto, porque é assim que o livro é vendido: como um retrato cruel, verdadeiro, profundo das armadilhas, armações e todos os tipos de jogos de poder e da busca pela fama e pelo dinheiro, o que sempre chama a atenção do leitor que busca uma leitura com esses temas. No entanto, o livro não passou, a meu ver, de uma história bem água com açúcar, com diálogos rebuscados, superficiais e situações até mesmo inverossímeis.
Resumo da ópera: uma jovem com o casamento marcado resolve enfrentar a família e o mundo para se tornar treinadora de elenco e passa a conviver com toda a fauna (sem demérito algum, nessa palavra) do mundo cinematográfico. E eis que aparece tudo o que você já viu em algum lugar: os poderosos magnatas do cinema, a jovem e ingênua miss que se torna uma atriz de sucesso, o jovem e transgressor italiano que vira o galã do momento, a família compreensiva, as best-friends-forever (moldadas para aqueles papeis de melhor amiga e confidente de qualquer comédia romântica que se preze), o jovem desajustado que leva o melhor amigo para o mundo das drogas, o gay enrustido, a atriz desmioladamente perigosa e por aí vai.
E é entando situar as ações dos personagens ao contexto da época (o macarthismo, o assassinato de Kennedy, o suicídio de Marilyn Monroe), infelizmente, transparece o pior da autora. Não há qualquer aprofundamento: famílias e amigos ficam chocados com as notícias dessas mortes e desfilam uma série de diálogos completamente rasos. Outra situação absurda: imagine uma perseguição política a um determinado personagem que havia trocado de nome ao seguir a carreira artística. A protagonista é chamada para ajudá-lo e dá a brilhante sugestão de não revelar a ninguém que ele trocou de nome, pois isso despistará os perseguidores. O personagem segue a dica e tudo é resolvido. Será que os detetives, a polícia, o FBI, os próprios e possíveis acusadores não saberiam ou não teriam como descobrir o verdadeiro nome desse personagem que havia se envolvido com os comunistas?
Enfim, uma daquelas histórias que parecem feitas (e talvez tenha sido mesmo) a partir de um molde a fim de ser vendida o mais rapidamente possível, lembrando aquelas séries de livros de uma certa editora...