spoiler visualizarErich 11/07/2022
Um bom livro, mas não o classifico como genial. Talvez eu precise ler novamente o fim do livro para achá-lo genial. Talvez à primeira vista - tal como o broche de latão - ele não seja nada demais. E, após ser longamente contemplado, se torne uma obra indispensável.
De qualquer modo, no momento, sinto-a como uma obra meio inacabada. O que acontece com Frank? O que acontece com Wegener? Quem enviou o assassino alemão? Que fim levou Childan? O que significa a revelação final do oráculo a Juliana? Porque tantos bicitáxis ao invés de táxis? Porque foguetes ao invés de aviões? A visão de Childan foi a mesma de Abendsen?
A história é uma realidade alternativa onde o eixo venceu os aliados na 2ª guerra mundial. Somos levados a acompanhar alguns personagens e como eles encaram a realidade presente. P. K. Dick adiciona ainda uma realidade alternativa dentro da realidade alternativa, apresentando um livro onde é feita a suposição de que os aliados venceram a guerra.
Nos tempos atuais onde políticos com aspirações neo-fascistas e neo-nazistas aparecem, essa distopia é interessante de ser lida. Vemos que a contaminação e distorção gerada pelo pensamento nazista não simplesmente pararia, continuaria deturpando a mente de gerações e levaria à normalidade atitudes que consideramos simplesmente inaceitáveis (como o extermínio de populações). Dentro desse aspecto um dos toques interessantes no livro é o comentário sobre um comediante que descreve como seria o possível encontro entre nazistas e alienígenas.
Como os alienígenas não seriam capazes de comprovar que são descendentes de arianos, os nazistas assumiriam 'naturalmente' que eles são judeus e precisam ser conduzidos sumariamente a uma câmara de gás.
Porém, mais do que a questão nazista, o livro nos apresenta um toque do que o Japão teria entregue culturalmente. E esse foi o aspecto que mais me chamou atenção. O livro das mutações como guia espiritual, os comentários sobre Wabi Sabi e Wu Wei. Essas ideias levam a um modo diferente de pensar e se relacionar com o mundo ao redor; ao menos diferente em relação à construção da cultura ocidental. Uma das primeiras coisas que fiz após terminar o livro foi ler um pouco mais sobre o I Ching.
Não ter historicidade nem valor artístico ou ético e, mesmo assim, comportar um valor etéreo... é algo maravilhoso. Esse objeto nos aponta um mundo inteiramente novo. O nome disso não é arte, pois não tem forma, nem religião. O que é isso? Tenho pensado... incessantemente, mas ainda não consegui descobrir.
O que o incomodava era aquilo. A morte de Adolf Hitler, a derrota e destruição de Hitler, do Partei, da própria Alemanha, conforme descritas no livro do Abendsen... Eram, de certa maneira, mais grandiosas, mais do espírito dos velhos tempos do que o mundo atual. O mundo da hegemonia germânica.