jota 12/05/2016Termópilas: quanto mais quente piorO livro de Steven Pressfield combina ficção e história com bastante equilíbrio, ainda que privilegie a primeira: ele não é um historiador no sentido estrito da palavra; narra um acontecimento a seu modo. E valeu-se não apenas de sua prodigiosa imaginação para tratar do conhecido episódio dos ditos "trezentos de Esparta", a batalha das Termópilas, que ocorreu em 480 a.C.
Nessa recriação o autor americano se valeu de fontes literárias originais, ou seja, Homero, Heródoto, Plutarco, Pausânias, Deodoro, Platão, Tucídides, Xenofonte etc., mas coloca em cena um personagem fictício (Xeones), um sobrevivente da batalha capturado pelos persas. Ele narra “(...) um dos momentos mais significativos da era helênica.”, como Pressfield destaca. Com isso tenta tornar acessível (ou interessante) para o leitor comum o entendimento do que aconteceu bem lá atrás na antiga Grécia.
Os heróis de Esparta, então governada pelo rei Leônidas, lutaram bravamente contra os invasores persas, comandados pelo imperador Xerxes, numa curta e sangrenta batalha travada nas Termópilas, desfiladeiro na Grécia central conhecido como “portões quentes" ou "portões de fogo”, daí o título da obra. Sobre ela escreveu The New York Times Book Review: “Uma narrativa viva e emocionante… Pressfield traz ao leitor o que nenhum historiador foi capaz de oferecer - a visão única dos soldados no campo de batalha... Uma novela extraordinária.”
Por outro lado, as longas descrições das cenas da batalha, uma verdadeira carnificina com um rio de sangue a escorrer, mesmo que causem arrebatamento e forte impressão no leitor, por vezes também chegam a cansar um pouco. Há não apenas um excesso de sangue e violência, cabeças quebradas, peitos perfurados, braços cortados, olhos vazados, vísceras e ossos expostos; da mesma forma, há personagens demais para acompanhar.
Ainda que suas histórias sejam interessantes (são escravos e reis, heróis e covardes, homens e mulheres anônimos etc.) elas tornam o livro bastante longo (que já é grande no formato 16 x 23), interminável. Ao final da leitura é quase assim como um livro de História antiga, com muitos detalhes sobre a estrutura social e política grega. E igualmente com muita coisa sobre os persas conquistadores.
No entanto, ao contar as histórias desses personagens, Pressfield quase sempre destaca a ação, a aventura, as lutas, enquanto Marguerite Yourcenar escrevendo sobre Roma antiga, por exemplo, nos guiava para a reflexão, daí que seu livro Memórias de Adriano, do mesmo gênero histórico, permanece inesquecível em nossa mente, muito mais do que permanecerá o livro de Pressfield certamente.
Nem todos os romances históricos ou épicos são construídos da mesma forma ou com os mesmos objetivos, claro. Por isso, apreciamos mais algumas obras do que outras, elas vêm ao nosso encontro com distintas intensidades. Minhas considerações sobre Portões de Fogo são, desse modo, um pouco diferentes das de outros leitores, mais entusiasmados com o que encontraram em suas páginas.
Lido entre 25/04 e 10/05/2016. Minha nota: 4,2.