spoiler visualizarludmilla_morais 26/05/2023
Não é um livro ruim, mas não é o tipo que me agrada
É uma história do cotidiano e mais realista, sem grandes invenções.
Eu atribuo 3 estrelas, duas pelo meu gosto pela história, que não foi muito, e mais uma pela forma que é escrita, porque apesar de ser uma história/ livro que não me agrada, não posso deixar de reconhecer a braveza e a inteligência de Virgínia. Impressionante a forma como ela escreve, passando de um personagem para o outro de forma sutil, sem contar o fluxo de consciência que ora se relaciona com um personagem e ora se relaciona com outro, livro sem capítulos, o que acredito que seja ainda mais difícil ?cortar cenas? e a aproximação do narrador com o personagem, que assim como dito nas considerações finais que tem ao final do livro, não é em terceira pessoa e nem em primeira pessoa, porque existe um narrador, mas em determinados momentos ele se aproxima tanto do personagem, se assemelhando a uma narração em primeira pessoa, mas ainda assim não perde o fio de uma narração em terceira pessoa.
Virgínia já disse em determinado momento que sua obra poderia não ser um romance, mas talvez elegia (poemas e escritas melancólicas?).
Não é um livro que me agradou, inclusive pensei em abandonar, porque pra mim estava uma história sem acontecimentos e sem reviravoltas, só não abandonei porque é o livro do mês do Leia Mulheres de Porto, e quis continuar a leitura para poder ouvir a opinião de outras pessoas sobre esse mesmo livro. Talvez não seja o meu tipo de leitura para o momento.
É uma história que narra muitos acontecimentos, muitos pensamentos e com muitos fluxos de consciência (pensamentos desorganizados) de diversos personagens. Me impressionou a questão de mudar de personagem como foco sem criar capítulos, ela muda de um personagem para o outro de uma forma tão sutil, praticamente imperceptível.
Comecei com uma dificuldade de encontrar o ritmo da leitura (literalmente o ritmo, como a entonação da voz), mas depois de umas 70 páginas percebi que eu lendo em um ritmo mais poético poderia ser mais fácil. Desta forma consegui seguir o fluxo de consciência que ela traz. Com esse ritmo poético, foi possível sentir altos e baixos na entonação.
A história é basicamente Clarissa Dalloway saindo para comprar as flores pra sua festa. No meio disso, durante um único dia, muitas coisas acontecem, algumas coisas ligadas a ela e outras não. Dá realmente uma sensação de vida, porque parece uma narração do cotidiano.
Clarissa Dalloway, de 52 anos, começa falando sobre a manhã, ora ela está sentada na calçada, e o fluxo de consciência é tão grande que em outro momento ela já está entrando no parque, depois na floricultura, tudo acontecendo entre um fluxo de consciência e outro, também mudando de personagens.
Ela parece uma pessoa que vê beleza em muitas coisas, já que inclusive ela critica Peter por não ver beleza nas coisas.
Além de Clarissa, quem aparece muito na história é Septimus, Sally e Peter.
Septimus, um homem que não conhecia Clarissa, mas no dia em questão ele vai ter uma consulta com um novo médico para solucionar sua depressão pós guerra. No fim, ele suicida, pulando da janela, e o único momento que a história dele e de Clarissa se esbarram, é na festa quando alguém comenta sobre a morte dele. Vale ressaltar, que a própria Virgínia suicidou em 1941.
Sally foi uma grande amiga de Clarissa e também me parece que foi uma pequena paixão de juventude. Elas enquanto adultas se afastam e voltam a se reencontrar apenas na festa, em que Sally aparece mesmo sem ter sido convidada. A vida delas se desencontraram na fase adulta, acredito que por serem diferentes socialmente.
Peter foi um grande amor de Clarissa, que a deixou e foi para a Índia, não teve um bom casamento e acabou sendo um adulto divorciado e sem filhos, enquanto Clarissa formou uma família com Richard. Me parece que os dois sempre estão para se encontrar, mas nunca se encontram.
Durante a história aparecem muitos personagens, que muitas vezes aparecem pontualmente com uma opinião/ visão sobre algum acontecimento.
Algumas observações sobre alguns momentos de alguns personagens:
Quando ela fala sobre Sally: Nesse momento, quando ela se aborrece por não ter sido convidada para um almoço com Lady Bruton, ela reflete sobre sua paixão por Sally. Vejo uma mulher infeliz com o casamento (quando ela diz ter a sensação de coração vazio, virgindade após o parto, que era adorável na mocidade mas que depois ela o decepcionou porque algo central irradiava e era algo cálido, não era falta de beleza), com isso parece uma mulher que teve um amor antigo e que agora era algo negligenciado. E a partir disso ela mostra o que sentia por Sally, que chegava a gelar de excitação.
Uma passagem interessante é quando Maisie Johnson chega à Londres. Maisie se deixa abalar pelo ar estranho de Septimus e sua esposa, enquanto que ao mesmo tempo a Mrs. Dempster (Carrie Dempster) se sente bem ao ver Maisie. Isso me fez refletir o quanto os outros interferem no que sentimos, sejam ruins ou coisas boas, e muitas vezes nem sabemos disso, apenas quem sente é que sabe.
Peter Walsh: Viajante solitário. A história mostra muito sobre ele também. Interessante quando as coisas lhe saltam os olhos na Inglaterra depois de 5 anos longe (é o que acontece com a gente quando chegamos em um lugar novo ou volta pra um lugar que muito tempo não ia).
Septimus: Ele era depressivo e não tinha sentimentos por conta da Guerra Europeia. O Dr. Holmes sempre dizia que ele deveria fazer algo ao invés de ficar só deitado, e falava que deveria fazer algo para ficar bem para o bem da esposa dele, como quando ele estava falando sozinho e o médico disse que assim ele poderia assustar a esposa, parecendo que o sentimento depressivo dele era negligenciado.
?Não dá para ter filhos num mundo assim. Não dá para perpetuar o sofrimento, multiplicar essa raça de feras devassas, desprovidas de emoções duradouras, reféns do capricho e da vaidade que as compõem e as conduzem ora para um lado, ora para o outro.? - Uma frase de um livro antigo, mas é uma frase muito atual.