Gabyh 15/03/2023
Uma leitura surpreendente
Eu terminei esse daqui há um tempo, mas precisei tomar meu próprio tempo pra começar a falar dele.
Quando eu o peguei para ler, jurei que ia ler uma poligamia no estilo que eu conheço (tipo uma menina que se descobre, ou algum casal com relacionamento aberto, ou qualquer coisa do tipo), e aí me deparo com uma mulher que juntou todas as amantes do seu infiel marido e montou uma REDE DE POLIGAMIA. Legal, né?
Eu sempre tive grandes dificuldades em ler livros antigos (clássicos são o meu terror pessoal), mas eu amei esse por ter uma linguagem rebuscada, mas completamente compreensível. Tanto a linguagem quanto a ambientação são pontos-chave para uma construção estupenda de enredo.
Falando em enredo, que enredo hein. Tem poligamia, religião de matriz africana, tradições fora da curva cristã/evangélica, crescimento de personagens e plots twists até que simples, mas ainda sim surpreendentes.
Eu gosto de livros que trazem personagens mais velhas aprendendo algo, porque mostra que não existe idade para se aprender algo sobre o próximo e sobre si mesmo. Rami é o maior exemplo de que não há idade certa para errar, nem idade para acertar. Enquanto você está vivo, dá tempo de fazer tudo o que quiser.
Outro ponto que eu achei legal foi a grande divisória de costumes entre os extremos de Moçambique. No Sul, as mulheres são feitas de gato e sapato, dando até o que não tem dentro de si para agradar o homem, sendo sempre trocadas por outras; no Norte, as mulheres falam, os homens obedecem, já que as mulheres são suas deusas, seus pontos de referência na vida.
O sistema patriarcal e questões de gênero são os pontos centrais da obra, e mais uma vez um clássico da literatura conseguiu prever problemáticas que perseguiriam a sociedade até os tempos atuais (e pelo andar da carruagem, os tempos futuros).
Em meio ao machismo e a uma desigualdade social, "Niketche" ilustra como uma união (mesmo com uma origem tão conturbada) pode trazer benefícios inimagináveis, principalmente a quem sempre está perdendo a si mesmo por conta do outro.
É aquele ditado, "se não consegue combater, junte-se a eles". Nesse caso, a elas.