danilo_barbosa 24/02/2012Uma luta extraordináriaVeja mais resenhas minhas no Literatura de Cabeça:
http://literaturadecabeca.com.br
Já tive a minha safra de livros fantásticos e são poucos os que atualmente me surpreendem. Pulando as sagas mais teens que acompanho com um fervor meio pueril, como House of Night, entre outros, acho cada vez mais difícil achar uma obra desse gênero, mais adulta, que me pegue de jeito.
Principalmente na literatura brasileira. Alguns autores iniciantes, aproveitando a febre do fantástico, introduzem em nosso dia a dia as mais loucas aventuras que, por um momento nos cativam, nos permitem viajar na história mas, infelizmente, ainda não deixam aquela marca definitiva na memória que me caracteriza como fã inveterado.
Por isso, quando peguei na mão o "tijolinho" (afinal, são 617 páginas) escrito pelas hábeis mãos de Roberta Spindler e Oriana Comesanha, pensei com os meus botões - Abusadas essas meninas! Para escrever a primeira obra deste tamanho é preciso ter muita coragem... - Mal sabia que naquela hora ia obrigar a engolir tudo que pensei.
Os Contos de Meigan - A fúria dos cártagos, lançado pela Editora Dracaena, vai além da capa belíssima. A obra transporta o leitor para um mundo fantástico e sanguinário. O mundo de Meigan, paralelo ao nosso, é habitado pelos Magis, pessoas que dominam os elementos - os mantares - como fonte de sua energia. E não digo apenas os quatro que conhecemos - nessa lista também se categorizam luz, sombra, forma, tempo etc.
Eles usam esses poderes de acordo com as suas vontades e evoluem conforme estudam para se tornarem mais poderosos.
Há muito tempo atrás, os humanos descobriram uma entrada para Meigan e tentaram dominar tudo. Alguns magis traíram o seu povo e se uniram aos humanos em busca desse poder. Foi preciso que os grandes sábios de Meigan acordassem Inarion, uma força mais antiga que o próprio tempo, para expulsar os homens e os magis traidores.
Os homens voltaram para seu mundo e esqueceram que Meigan um dia existiu. Os traidores foram chamados de cártagos e confinados aos infernos daquele lugar. Só restaram desse evento as lembranças e os 7 portões que cercam a capital de Meigan, guardados pelos guardiões, seres mitológicos que são proibidos até de mostrarem seus rostos, acobertados por máscaras.
É a esse mundo que pertence nossa heroína, Maya Muskaf. Filha da regente de Meigan, ela foge de qualquer tipo de compromisso com o reino, infiltrada em meio aos humanos, conhecendo seus costumes e histórias - apesar de nós não nos lembrarmos deles, eles tem livre acesso ao nosso mundo.
Mas o dever a a chama e ela decide voltar a Meigan.
Lá chegando, ela encontra o Caos. Os Cártagos conseguiram atravessar a mágica das fronteiras de Meigan e destruir os seus portões. Em um momento trágico, Maya vê sua mãe ser estuprada e morta pelos inimigos. Perdida e desamparada, uma estranha em seu próprio lar, Maya não sabe em quem confiar. Afinal, quem havia facilitado a entrada dos Cártagos? Quem planejava a destruição de seu mundo?
Guerra, vingança, sangue e magia marcarão o caminho de Maya em busca do seu amadurecimento. E o amor também, em um rosto escondido por trás de uma máscara...
Gente, a escrita dessas meninas só tem uma definição - Poderosa! Elas sabem prender a atenção do leitor com suas cenas de ação desenfreada. A gente não consegue tomar fôlego em meio as reviravoltas que Maya e seus companheiros passam durante o decorrer da trama. Toda o desenrolar é pungente, tenso, cheio de nuances e complexidades.
No seu enredo fantástico se mesclam preconceitos, amores e muita batalhas, numa época onde ninguém é de confiança e muitas são as surpresas. Em certos momentos, o livro consegue criar um clima parecido com o conceituado A guerra dos tronos, onde nada é o que parece ser. Isso acaba resultando em uma simpatia imediata de nossa parte por cada um dos personagens e a maneira como eles crescem durante a trama.
Meu personagem predileto, sem sombra de dúvidas é Seth, o guardião. Com um jeito que pode parecer meio turrão, sua imagem oscila entre leveza e a tristeza dos deveres que foram impostos em toda sua vida.
"Que tipo de pessoas os guardiões estariam protegendo por tantos anos? Pessoas que atiravam comidas e objetos em prisioneiros, que tratavam com crueldade a quem deviam respeito? Esse tipo de gente merecia sua proteção e lealdade?
Não conseguindo mais se controlar, Seth socou as paredes à sua volta. Não sabia muito bem quando, mas em algum momento, desaprendera a ser guardião."
O único defeito, na minha opinião, é o final em suspenso, depois da epopéia de ler o livro todo. Mas já fiquei sabendo que outro livro com a conclusão dessa saga será lançado em breve.
Resta aos leitores aguardarem com ansiedade tão esperada conclusão. Enquanto isso não acontece, leiam este livro. E se apaixonem com um mundo tão diferente e, ao mesmo tempo, tão parecido com o nosso.