Marcos 19/08/2022
“O céu não é pro meu bico”, dizia Zezé o tempo todo. Aqui, vemos o amadurecimento do menino que conhecemos em Meu pé de Laranja Lima, marcado por tantas tristezas, perdas e luto, surras desumanas e uma imaginação tão viva, sensível e criativa. Zezé dá vida a seres inanimados que se tornam extensão de seu peito e sentimentos, como foi o pé de laranja lima, a sua poltrona, o piano, e o sapo cururu Adão. A necessidade de sua imaginação ter de ser transportada à realidade reside na sua solidão, no seu abandono, e como forma de suprir todo afeto que não teve na vida, se entrega a essas imaginações.
Numa projeção imaginária, Zezé conhece o sapo cururu Adão e pede pra que ele penetre seu coração pra ajudá-lo a ter coragem, para protegê-lo, para ajudá-lo a aquecer o sol diariamente, mesmo sem força ou esperança, porque era injusto demais o sol ter de aquecer todo mundo sozinho.
Ainda mais arteiro, correndo com a tanguinha do tarzã escondido pela floresta imitando almas penadas pra assustar a cidade, roubando frutas na vizinha, desafiando os riscos do mar, se encrencando, apaixonando, tendo de partir e deixando pra trás tudo que o acolheu. Mais uma vez, o personagem encanta e emociona,
A despedida do sapo cururu de seu coração é bem figurativa e sensível, e em sua memória, Zezé sempre dizia: “ eu vou continuar cantando para você, porque felizmente eu ainda sei o que é saudade”.
Ah, definitivamente, o céu não é pro seu bico, Zezé. Mereces toda uma estrutura celestial só pra você!