Maria 03/04/2024
Uma leitura obrigatória para o mundo feminino
"Me vi sentada embaixo da árvore, morrendo de fome, simplesmente por não conseguir decidir com qual figo eu ficaria. Eu queria todos eles, mas escolher um significava perder todo o resto e enquanto eu ficava ali sentada, incapaz de tomar uma decisão os figos começaram a encolher e ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos meus pés"
Sylvia Plath traz com A Redoma de Vidro uma visão de sua própria visão de mundo e sua depressão, o que torna a personagem de Esther uma figura muito real, humana. À princípio, comecei a ler o livro em mente que em algum momento da história a protagonista tinha crises e seria internada em um hospital psiquiátrico, o que faz com que se espere que eu seria introduzida a versão estereotipada de uma mulher louca. Mergulhando na leitura, na verdade, dou de cara com uma personagem pacata, que apesar de ter tudo para ter uma vida perfeita e maquiada, é completamente indiferente à sua realidade, criando comparações melancólicas em todos os aspectos de sua vida, que para mim foi o fator mais humanizador de Esther e é o que torna a protagonista tão interessante em meio a natureza tão inerte de sua depressão.
Você não sente especialmente um clímax no livro, é uma leitura com pesares e certa tensão em alguns pontos mas que no geral não te deixa agitado, no decorrer da leitura se percebe que o antagonista da história são os próprios pensamentos dela. O fator de espelhamento e identificação com a Esther pode variar de pessoa pra pessoa, você entra de forma muito profunda no mundo dela mas para mim, o que mais bateu foi a sua visão de maternidade, papéis de gênero e sua perspectiva de carreira, a relação que ela faz da vida dela com a figueira, citada ali no começo, é algo que vai ficar no canto da mente por muito tempo.