Junia
04/05/2021Há justiça em uma epidemia?"Nêmesis", deusa da vingança e da justiça, dá título ao último livro de Philip Roth. Sob o pano de fundo de uma epidemia, neste caso a poliomelite, é contada a história de Bucky Cantor. Jovem, na faixa dos 20 e poucos anos, criado pelos avós, o sr. Cantor tinha como trabalho cuidar do pátio no verão, onde as crianças e adolescentes brincavam. Frustrado por não poder lutar na guerra por ser míope, ele desempenhava seu trabalho de forma exemplar, dedicada e era admirado. A polio, uma doença sem cura e cuja prevenção era desconhecida, retornava em mais um verão causando a paralisia e retirando a vida de crianças, jovens e adultos. Era 1944, o pior surto ocorrera 28 anos antes e ainda não se tinha informações fundamentais para o enfrentamento daquela doença. Aquele seria mais um ano devastador. Não se sabia como se dava o contágio, nem porque alguns sucumbiam tão rápido. Em poucos dias, a doença levava crianças a óbito. Era possível sobreviver, mas com graves sequelas e longos tratamentos. Neste cenário, muitas são as questões que se colocam nas reflexões de Bucky: a ausência de explicação e a crueldade com que assolava especialmente infantes atingiam a sua fé. No recheio dessa história, desinformação, medo, angústia e muitas vidas que precisam "seguir". Que escolhas, quais arrependimentos, quantos lamentos e perdas ocorrem "dentro" de uma epidemia? Como viver esse luto e ter esperança? Diante do título escolhido por Roth me pergunto a que vingança ou justiça ele se referia.