Drigo.Cardoso 01/07/2023
Os mafiosos de Puzo merecem o paraíso
Quase certamente eu teria gostado muito mais de Omertà se o tivesse lido na época em que li O Poderoso Chefão pela primeira vez, na adolescência. Fato é que, numa relação quase paradoxal, eu vejo em O Poderoso Chefão o mesmo problema que em Omertà, mas não consigo gostar menos e nem de achar um dos meus livros prediletos. Entretanto, com Omertà é diferente, não dispensei pra esse livro o mesmo fascínio, portanto...
A trama de Omertà é simples, nenhum leitor encontrará aqui algo excepcional. Existe um jovem mafioso, predestinado a virar um chefe, procurando vingar-se do ataque que seu pai (no caso aqui, tutor) sofreu. Soa familiar? Pois é. Todas as personagens aqui são claras, sabemos exatamente o que querem e porque querem. Os motivos dos antagonistas são explicados sem rodeios. A narrativa avança de forma morna (o fato de eu ter lido na versão PT-PT também não ajudou), com alguns solavancos pra que a história avance (em algum momentos parece, inclusive, que muito conteúdo original foi deixado pra trás). E, no final, uma resolução ainda mais apressada.
Mas este não é o problema de Omertà, o problema deste livro, como todos os livros de Puzo sobre o tema, é o seu objeto central: "o mafioso, segundo Puzo". Em O Poderoso Chefão, pela data, talvez pelo receio, é possível entender os motivos que levam o autor, como tantos autores italianos, criar um "bom mafioso", forma que tanto agrada o ego de verdadeiros mafiosos (na Itália, inclusive, por muito tempo ajudou a construir uma percepção pública deste criminosos). Já em Omertà, seu último livro sobre o tema, não haveria desculpas.
É claro, há os maus mafiosos neste livro, como há em todos os outros títulos de Puzo, mas nunca os personagens principais, estes são sempre bons, à suas maneira, mas bons, honrados, decentes. E isto acaba por tornar o texto bobo, dando a impressão de que, se fosse diferente, as pessoas não leriam. Puzo teria trabalhos infinitamente mais ricos se trilhasse um caminho mais cinza para suas personagens.
É por isto que eu tenho tanto receio de ler novamente O Poderoso Chefão, é por isto também que cada vez fica mais claro que o melhor romance de Mario Puzo, é seu primeiro livro: O Imigrante Feliz.