Paulo 14/03/2020
Só se fôssemos todos loucos!
Não é de hoje que eu penso o quão entediante é isso o que nós chamamos de realidade. E alguns podem dizer que estou sendo injusto com a vida, pois no mundo ainda há perguntas sem respostas e belezas naturais para serem vistas. Isso está certo, contudo nossas fantasias não vivem só de respostas e belezas naturais. Queremos sempre mais, e é por isso que a fantasia, a lenda, o folclore, a mitologia, a religião, a literatura, o teatro, o cinema, os videogames e tantas outras artes fizeram e ainda fazem parte da humanidade. E nem por isso somos chamados de loucos. Nunca houve sociedade sem estórias e nunca haverá, pois é inerente do ser humano criar o fantasioso, achar mistérios onde não há e tentar dar significado às coisas, embora elas nem sempre o tenham - ou como dizia Fernando Pessoa "As coisas não têm significado, têm existência. As coisas são o único sentido oculto das coisas."
Por isso repito: a realidade por si só é entediante, sem atrativos, e por isso criamos fantasias. O Lago Ness por si mesmo é apenas um lago, mas se uma sociedade inteira criar a lenda de um monstro habitante daquelas águas, então o lago passa a ter outro significado, passa a ter mistérios e histórias. E até mesmo hoje em dia, numa suposta "era da razão", temos nossas fantasias: uma casa rústica abandonada é apenas uma casa, mas quem crê que nela habitam assombrações deixa de entrar na casa mesmo sem acreditar completamente em lendas de espíritos. E outra, ninguém aqui do Skoob leria um romance que conta a história da rotina de um jovem que acorda cedo, vai para o trabalho e à faculdade, e retorna para casa e faz a mesmíssima coisa nos meses seguintes. Pois essa vida nós aqui já temos. Então para lermos um livro ou entrar numa história nós precisamos de algo que nos prenda nela, algo que nossas vidas reais são incapazes de nos fornecer.
A mente humana sempre foi, então, o meio pelo qual o ser humano sai deste mundo e entra no universo onde tudo é possível. De criar o futuro, o improvável, o inexistente e o impossível.
Nós assistimos aos filmes de super heróis e ficamos absortos, submersos na história e quando ela acaba nós voltamos à nossa realidade. Dom Quixote, por outro lado, acreditou piamente que moinhos de vento fossem gigantes, ou que outras aventuras fossem frutos de feitiços alucinógenos. O louco seria, então, aquele que fica submerso em fantasias por tempo demais? E se todos acreditássemos a vida ser fruto de uma ilusão, aquele que não acreditasse nisso seria tido como louco?
Pode ser que o nosso nobre fidalgo fosse louco, mas uma coisa é certa: ele saiu da realidade para entrar no universo da fantasia e ele viveu lá. Ele escapou, portanto, do tédio da realidade, diferentemente de nós.