de Paula 22/03/2021
Helena: Primeiro contato com Machado
Helena foi um dos meus primeiros contatos com a obra de Machado e a mais diferente possível do autor, pois esta é romântica e bem ao estilo do ápice do romantismo, com os elementos de amor impossível e as últimas instâncias que pode levar o desespero humano.
Essa obra continua com lugar cativo em meu coração, por ser muito bem escrito, com angústias reais e uma história completamente envolvente, sem nenhuma declaração tácita, porém com o entendimento do profundo e complexo amor que Helena tem que esconder de todas as pessoas mais queridas.
Helena é a filha bastarda de um conselheiro muito rico, que ao falecer, deixa em seu testamento a obrigação da família em compartilhar a herança financeira, assim como receber a jovem na sua casa, cuidando dela como se fosse filha legítima. Estácio é o filho do conselheiro, que de bom grado, aceita os últimos desejos do pai, enquanto a tia, Dona Úrsula, não é muito afeita da ideia de ter uma jovem estranha na casa. A jovem chega e começa a encantar a todos, menos o amigo de anos, Doutor Camargo. Sua filha, Eugênia, era a prometida de Estácio e com a interferência de Helena, ele temia que de alguma forma sua filha fosse prejudicada. Após uma grave doença, Helena ganhou a tia de todo o coração, no entanto, os passeios matutinos à cavalo começaram a ser motivo de suspeitas e curiosidade de muitos.
A narrativa se desenrola com noivados, amores fracos, mentiras, interesse financeiro e muito desprezo pelos escravos (como se fossem nada além de objetos, não pessoas, embora o fossem lembrados em caso de suspeitas que se levantam para cima da protagonista), descobertas sobre os verdadeiros sentimentos e a grande e misteriosa origem de Helena.
Apimentado com os toques de amigos e do padre, uma situação que poderia ter sido resolvida de forma simples, em nome dos bons costumes se tornou algo completamente trágico e fora de controle.
A crítica social presente é sobre o Conselheiro, que se vê no direito de ter as mulheres que quer, mesmo magoando a esposa e independente das consequências na vida das outras pessoas e famílias, simplesmente porque ele pode, por ser rico. Isso o autor deixa claro, embora, com o desenrolar da história, as pessoas se esqueçam dessa premissa e se lembrem apenas do desenlace amoroso de Helena.
Uma história que vale a pena ser lida, além de comparada aos maiores clássicos do Romantismo, que poderá ser notada como uma obra prima, com todos os elementos da época, com alguns detalhes do estilo machadiano, bem singelos na obra, considerando que é seu terceiro romance, o mais distante de tudo o que escreveu, mesmo assim, magistral.