João 11/06/2020
Perto demais do raso
O Reverso da Medalha retrata a saga de Jaime McGregor e seus descendentes. Passeando por quatro gerações, Sheldon começa a narrativa a partir um irlandês humilde que, com coragem e ambição, se aventura no desconhecido em busca da riqueza; Jaime, ainda que escrito em cima de arquétipo pouco criativo, consegue ser o personagem mais bem construído do livro.
Por se propor a retratar uma saga que perdura por muitos anos, Sidney Sheldon é ambicioso ao retratar a jornada do herói de Jaime, a reviravolta de Margaret, a trajetória de Kate, o drama de Tony e a novela em volta das gêmeas Alexandra e Eve. Uma qualidade importante de um autor de ficção é saber calcular quando o leitor precisa respirar no meio da trama, e Sheldon peca nesse aspecto.
No geral, os personagens são construídos pobremente e a narrativa é tão rápida que se atropela. É muito doloroso pra mim no nono livro dele me incomodar com o ritmo da narrativa. Não tiro o mérito criativo dele, mas acho o enredo um prato cheio pra uma trilogia e não para um volume único. Se a intenção dele era fazer uma narrativa centrada na Kate, existem maneiras mais criativas de retratar as tramas paralelas a ela do que dispô-las cronologicamente.
A escolha de narrar os fatos em ordem cronológica se torna um pouco custosa conforme o enredo se apressa. Nos capítulos finais, parece que estamos lendo um roteiro. O background como roteirista de cinema prevalece muito na narrativa d’O Reverso da Medalha, a leitura é rápida e as imagens são construídas suscintamente, criando um verdadeiro filme na nossa imaginação.
Além do ritmo, a construção dos personagens também fica prejudicada. As personagens centrais da trama são fracamente construídas e Sheldon dirige muito nosso julgamento, tirando um pouco o prazer artístico de contemplar e refletir sobre sua personalidade e decisão. Alguns personagens carismáticos como Banda e Tony, então, são quase que sacrificados pelo ritmo do livro, merecendo muito mais desenvolvimento.
Apesar da parte técnica não ser tão forte nesse livro, é uma leitura que vale a pena para todo bom fã de Sidney Sheldon (como eu!), mas talvez não seja tão interessante para quem é fã de literatura de ficção e quer começar os livros de Sheldon.