Jardim de histórias 15/02/2024
A metáfora da morte que celebra a vida.
Um baita romance com contornos psicológicos, que o autor Patrick Süskind nos envolve do início ao fim, em uma Paris, que ao contrário do encanto que é de conhecimento público, se esconde nas sombras da miséria social e humana no que se refere ao abismo de uma sociedade durante o regime monárquico do século XVIII.
Além de ser um romance repleto de textura, o autor descreverá profundamente, por uma narrativa metaforicamente ousada, a saga de Jean-Baptiste Grenouille, que ao nascer foi abandonado por sua progenitora e, ao longo da sua história, teve que conviver com outros abandonos, o que resultou na formação de um caráter permeado por introspecção, isolamento e sordidez, que vão construir um antagônico personagem.
Um livro fascinante e muito bem escrito, explicativo e altamente sensorial.
Dotado de uma extraordinária sensibilidade olfativa, que lhe permite ir até a conjunção de odores, capaz de conhecer todos os ingredientes que compõem a anatomia do cheiro. O jovem Grenouille, despertará no leitor sensações e percepções que os levarão do compadecimento à repulsão. Pior do que o comportamento mental de Jean-Baptiste é a indiferença social da aristocracia e da plebe com delírios burgueses que vão permear o contexto do romance, embora a referência seja de um personagem totalmente inerte, não tem como não mencionar a responsabilidade do coletivo que contribuiu com a desestrutura do estado comportamental de Jean-Baptiste Grenouille, desenvolvendo um ódio que passou a sentir pelas pessoas.
Em destaque, que mesmo vivendo em uma invisibilidade perante a sociedade, Jean-Baptiste, tenta de forma inusitada, sua introdução social, outro ponto, é que mesmo a história destacando a incomum habilidade sensorial de percepção de odores, outras características que passam quase despercebido, porém, de grande importância, é a paciência descomunal e a capacidade dissimulada de se camuflar, escondendo sua habilidade.
No geral, um livro fluído, sensorial, metaforicamente ousado, com um desfecho surreal.