Tola 07/09/2020
Um passaporte
Decidi levar escrita à sério no mês de junho, mais especificamente no Camp NaNoWriMo. Posto isto percebi que há algumas áreas que é instintivo ao escritor, como a criatividade em estruturar a história ou o tesão em desenvolver o enredo, porem tem diversos outros tópicos que precisam de ser consumidos e aprendidos.
Na minha cabeça existem centenas de personagens, de cenas, de músicas que cairiam bem para cada cena, até mesmo o cheiro que o protagonista irá sentir em um momento bem específico, mas não só de ideias vive um artista, sendo assim fui a enciclopédia moderna: o Youtube.
De muito “como fazer...” até os “essa foi a minha experiência”, eis que esbarro com Bettina Winkler.
Isso mesmo, a Bettina deste perfil que tu abriu.
Primeiro assisti a um vídeo, sem muitas expectativas, dado que ainda estava conhecendo o conteúdo, não obstante quando me percebi quase que em outra dimensão, me forcei a voltar dando fé que consumi mais conhecimento que imaginava.
E conhecimento é tudo.
Tomei gosto, foi inevitável. Do Youtube fui ao Instagram, as opiniões e admiração foram transferidos para uma relação mais próxima, diária e graças a este fato surgiu uma incrível novidade.
Ela estava prestes a lançar seu próximo livro.
Eis que chego à Transmorfo.
A cada spoiler eu ficava mais intrigado. Acho que esse era o objetivo, right?
O caminho até a escritora é importante para reforçar ainda mais a presumível qualidade do trabalho a seguir. É necessário ressaltar que essa resenha será escrita de um ponto de vista de alguém que não gosta de fantasia.
Aliás, não GOSTAVA.
Resumo
No cenário inicial é apresentado dois grupos de personagens importantes, que apesar de ambos serem humanos, um deles são os transmorfos, que tem habilidade de se transformar parcial ou completamente em animais e os caçadores, que tem como objetivo perseguir os anteriormente citados. Ainda dentro do grupo dos transmorfos, há a divisão entre puros, que a linhagem segue ininterrupta, e impuros, em que a capacidade de se transmutar não segue uma sequência lógica.
A escola de Linnaeus, nas redondezas da cidade de Fairbanks, próxima as montanhas do Alasca é o ambiente onde a trama se desenvolve, a mesma é uma universidade em que os transmorfos possam se sentir seguros e ter uma vida “normal”.
Era para ser o lugar mais seguro, como uma espécie de refúgio, mas somente era. Faith (lobo), Maddie (gata), Essie (coruja), Alisha (raposa) e Frankie (coelha) se unem por um motivo devastador: há um assassino dentro da escola.
Cada qual fugindo dos seus segredos, medos e passados, constroem a atmosfera da obra, e a partir daí vários pontos vão sendo ligados e novos são descobertos. Muita água passa por debaixo da ponte e como diz a própria sinopse, o livro é regado de “Segredos do passado, mensagens escondidas, sangue derramado, conversas sussurradas, lutas ilegais, escuridão, frio, ameaças, desconfiança, medo, morte.”
Considero a obra como um carimbo no passaporte, mas que nem de longe é possível imaginar a experiencia da viagem.
Li em aproximadamente quatro dias e em cada um deles eu fui transportado a um estado de espírito diferente, tendo como exemplo o fato de ter ficado muito mal no final do livro, passei o dia estressado e pra baixo. É possível enxergar isso como bom e ruim, claro, mas eu achei incrível.
Ansiei com tudo que eu sou para que cada beijo e encontro acontecesse, e sofri com uma dor na alma em cada desencontro e amassos que poderiam ter sido dados. A trama “principal” da história rapidamente se tornou “secundária” e eu imergi de cabeça nas vivências particulares e as bagagens que cada personagem trouxe consigo. Quando uma ideia passa para o .doc e é entregue ao mundo, a dinâmica dos elementos se torna quase que real, permitindo que indiferente da Bettina, eu consiga estabelecer um relacionamento somente com a personagem e seus contextos.
Em um dos vídeos, em seu canal no Youtube, a artista conta sobre uma certa predileção com a Maddie, o que pode ter sido responsável para minha visão inicial de protagonismo, entretanto não demorou muito para realidade tomar o lugar da impressão. A cada capítulo da história eu ansiava por enxergar sobre o ponto de vista de uma delas em específico. Por algumas vezes me peguei pensando “Será como a Frankie está lidando com esta situação” e assim com todas as demais.
Eu me tornei íntimo das protagonistas, em especial a Lagomorpha, e as emoções que supra citei oscilavam de acordo com o que ela me emanava. Com ela, e com as outras, senti desde o primeiro sorriso até o primeiro frio na barriga, sendo capaz até de sentir pânico quando ele tomava conta de toda a situação. Falando em frio na barriga & Frankie, ter uma personagem LGBT+, é uma questão que me fez gostar inda mais da obra.
Enquanto escritor, sou extremamente chato com o português, não só ortografia, coesão, coerência, mas com a capacidade de tornar a leitura quase 3D, deixando completamente submerso o aventureiro em seu novo mundo, ou seja, sua obra. Por mérito da Winkler, eu vi de perto as lutas da Faith, as coreografias do Lyl e da Alisha e inúmeros outros eventos.
Quando pegava meu kindle, adentrava Linnaeus como os filhos de Adão iam para Narnia.
Confesso que agora, dias após terminar a leitura, existe um ponto que acredito que possa ser revisto nas próximas obras. Transformo tinha potencial, não que seja sinônimo de qualidade, de ser quase que o dobro do tamanho caso os detalhes fossem extremamente destrinchados, mas também entendo que existem diversas variáveis interferindo nesse contexto, uma delas, por exemplo, é o estilo de escrita em particular.
Releria, e na verdade vou reler quantas vezes conseguir, pois tenho a sensação que dá pra encontrar ainda mais detalhes que te entreguem o final de forma menos abrupta, apesar de conhecendo o seguimento dos fatos, acredito ser impossível prever em sua totalidade.
Em resumo, Transmorfo é uma obra que me agradou e recomendarei com entusiasmo, acredito ser um presente praquele que aceitar o convite. Vejo como uma possibilidade um maior aprofundamento em alguns dos fatos, mas entendo que pode ser entendido como qualidade, uma vez que torna a leitura é fluida e facilmente contagiante.
Espero genuinamente que leia e compartilhe com ainda outros, são presentes.
Ps: Não posso me esquecer de citar a interação com a autora, Sra. Winkler, que contribuiu ainda mais para minha experiencia.
Heitor Mesquita
XOXO