paulina 20/08/2022
Lindo! Novamente Chimamanda nos entrega um livro de escrita impecável, com um tom de denúncia social as desigualdades e corrupções do governo nigeriano que me fazem pensar muito sobre a realidade brasileira. É um paralelo de países colonizados inevitável de se fazer, tantas situações me fazem pensar sobre o Brasil.
Além disso, temos personagens carismáticos, como tia Ifeoma ? figura fundamental para o crescimento dos adolescentes ?, Amaka ? que se torna uma irmã para Kambili?, Jaja, padre Amadi e Obiora. Mas eu acho muito interessante falar do Papa Eugene, que, embora desempenhasse um papel social importante naquela sociedade, fosse generoso com seus funcionários, sua igreja e sua comunidade, era um tanto contraditório quando se tratava de lidar com a família. Péssimo no tratamento com os filhos e a esposa, sem a menor compaixão com eles, exigindo apenas a perfeição e nunca menos que isso. Religioso e pragmático ao extremo, sobretudo, com seu pai. Várias vezes me peguei pensando: de que adiantaria seguir à risca todos os rituais de sua religião e fazer caridade se você rejeita os seus?! Enfim, Papa Eugene é um personagem de uma tremenda complexidade que o torna semelhante a modelos de indivíduos que conhecemos, de tão verossímil essa questão da sua contradição.
A outra personagem cuja construção preciso falar é a Kambili. Inicialmente ela era apenas uma garota de extrema timidez, que tinha dificuldade para falar, para se expressar, de modo que em vários momentos se pega pensando que queria ter sido capaz de dizer o que seu irmão disse. Até metade da trama ela assume uma posição contraditória: a de protagonista, mas que é espectadora. Sua timidez faz com que ela prefira se colocar como plateia ou figurante e o que temos de sua participação são seus pensamentos. Mas aí surge o padre Amadi que várias vezes diz sobre sentir que ela não fala nada, mas pensa muito. O momento crucial para sua transformação é quando Amaka a insulta e a tia Ifeoma brada exigindo que não ficasse calada ? é no momento em que ela observa o desabrochar das flores que ela toma coragem e reage, e é nesse exato momento que nasce uma nova Kambili. Uma Kambili que vai se deixar ser agredida para proteger o retrato do PapaNnukwa, uma Kambili que deixa de tentar ser a menina perfeita do pai devido ao amadurecimento.
Eu passaria horas e horas falando desse livro e ainda assim não encontraria palavras pra descrever ou captar toda a riqueza que ele tem. Enfim, recomendo fortemente a leitura.