Valéria Ribeiro 28/03/2023
Realismo mágico
Este é o primeiro livro de leio de Alejo Carpentier e creio que comecei muito bem. Em uma narrativa enxuta, adentrando no realismo mágico, Carpentier repassa o processo de independência do Haiti, iniciado em 1791. Assim, toda a ação acontece na Ilha de São Domingos, no espaço do domínio francês.
Por meio da vida de Ti Noel, desde sua infância e juventude como escravo na fazenda de Lenormand de Mezy, sua ida para Santiago de Cuba após a revolta popular, até, quando já ancião, já de volta à sua terra natal, transmuta-se em pássaro. O domínio francês, a escravização humana sob essa colonização, a revolta popular, a ascensão ao trono de um rei negro (Henri Christophe) , sua deposição e o novo governo, tudo é relatado com uma escrita mágica e envolvente.
A questão que mais se destaca nessa narrativa, podemos perceber por essa passagem. “o velho começava a desesperar ante esse infindável renovar de cadeias, esse renascer de grilhões, essa proliferação de misérias, que os mais resignados terminavam por aceitar como prova da inutilidade de qualquer rebeldia.” Não importava quem estivesse no poder, o povo continuava a sofre sob o jugo de alguém: “os feitores de Lenormand de Mezi, os guardas de Christophe e os mulatos de agora... .”
Passavam-se os anos, mas a situação de exploração do povo pelas elites dominantes não se modificava.
Ademais, a pena do autor descreve a exuberância da região, suas praias, seus relevos, os alvoreceres e imensidão do mar, sua flora, sua arquitetura e a mescla cultural que surgiu do amálgama do francês com o crioulo haitiano.
Alejo Carpentier (Havana, 26 de dezembro de 1904 — Cuba, 24 de abril de 1980) foi um novelista, ensaísta e músico cubano, de origem franco-suíça.