Posta-restante

Posta-restante Cynthia Rimsky




Resenhas - Posta-restante


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Gabs - Entre Prólogos e Epílogos 19/07/2024

A busca por origens pode ser uma ilusão
Uma autora é encontrada por um álbum de família com seu sobrenome escrito errado na primeira página...
Esse livro então é uma reunião dos registros da viagem que ela faz atrás de saber quem são as pessoas das fotografias: entradas de diário, "causos" da viagem, histórias tradicionais dos locais por onde passa, cartas recebidas, imagens de mapas e papeis dessa trajetória.
Achei interessante o estilo que a autora usou pra escrever o seu relato, desde as imagens até a alternância entre diário e relatos em terceira pessoa, como se ela acabasse virando (e acaba) parte da história dos lugares por onde passou.
Particularmente, tenho gostado muito dessa recente onda literária de livros de investigação de raízes familiares (apesar de esse livro ter sido publicado em 2001, um pouco antes de um possível "início" dessa onda). É interessante reparar como em muitos casos a investigação pode, no fim, não ser nada do que o autor inicialmente imaginou.
Apesar de tudo isso, essa obra de Cynthia Rimski não funcionou pra mim. Na primeira metade do livro, achei palpável a falta de inspiração que ela mesma cita em algumas entradas dos diários no Chipre. Os relatos até começam a ficar mais completos a partir do meio para o final, mas achei que a maioria são abstratos demais para uma viagem que passou por 11 países. Imaginava que teria causos mais aprofundados, relacionados a essa busca familiar, mas senti que as escolhas da autora foram por passagens aleatórias e quase desconexas.
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estevesandre 19/04/2024

Uma viajante em busca do outro e de si mesma
É curioso quando entramos num sebo ou bazar e encontramos um livro ou objeto que traga registros sobre alguém. É como se naquele momento constatássemos que o item usado pertenceu de fato a outra pessoa e é um vestígio de uma história. Trata-se de uma memória que mudou seu curso, mas segue preservada em outro lugar. Nada mais natural que isso desperte interesse e nos faça refletir sobre em quais partes do caminho fica aquilo que deixamos para trás ou nos forçam a deixar.

Em “Posta-restante”, a chilena Cynthia Rismky nos revela que esse tipo de achado a colocou em conflito com sua própria origem. Após descobrir num mercado de pulgas de Santiago do Chile um álbum de fotografias contendo o sobrenome paterno, grafado com uma letra diferente, ela encontrou a motivação que esperava para buscar informações que dessem contornos mais nítidos para a história de seus antepassados judeus, que migraram para a América do Sul.

A partir de uma descoberta que poderia ser uma mera ilusão, ela embarca com recursos escassos numa viagem de regresso ao lugar em que se rompeu o fio familiar, numa tentativa de recuperar o que se perdeu e, nesse processo, reencontrar a si mesma.

Num mosaico formado por recortes, mapas e diários, a escritora reconstrói para o leitor seu itinerário por 11 cidades e países, numa aventura que extrapola os limites que distanciam povos, desde a língua até os costumes, para se reconhecer diariamente nos outros. Afinal, o que nos assemelha não é o fato de sermos todos estrangeiros?

Ao mesmo tempo, a autora nos convida a pensar como as migrações impostas por guerras, perseguições e crises fizeram com que muitas pessoas se desvinculassem de suas origens. Nessa ruptura, é possível manter mais do que um sobrenome? Conservar a herança cultural que nos foi tolhida? Aterrar a rachadura e reconstruir sobre ela um lar? “Posta-restante”, em contraste com sua narrativa fragmentada, é um relato completo sobre essa busca incessante e tão humana por um lugar ao qual pertencer.

| Resenha originalmente publicada na minha conta no Instagram: @memorialdeumleitor |
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