Tatá 28/11/2023Estela a esta hora, de Natália ZuccalaFoi com muito entusiasmo que tomei o “Estela” (2023) nas mãos, ainda impactado pelo “Cheia”, que li em 2021.
Acompanho a escrita de Zuccala desde o texto para teatro “O gato, a Anã e o Gigante”, e também assisti ao espetáculo no Club Noir, creio que em 2010. E, com grande expectativa, estive no lançamento do livro de contos “Todo mundo quer ver o morto”, em 2017.
Estela, assim como os outros livros, pode parecer leitura fluída, mas é profunda. Quem lê pode facilmente se perder nos diálogos. É impressionante o prazer em voltar um tanto no texto até retomar ao ponto de onde a gente se perdeu. A autora provoca isso diversas vezes. E assim, vai ficando evidente a importância do conteúdo e não necessariamente de quem está falando.
Num dado momento, tomei um susto. A minha compreensão estava afetada por algo que eu não sabia explicar. Que nada, é o jeito contundente da escritora de nos colocar em contato com o pesadelo que a personagem principal estava tendo.
Aliás, entre as diversas habilidades da autora, causar estranheza ou identificação no leitor por aquilo que o texto não revela explicitamente é constante.
Outra coisa que me encanta no Estela são as expressões que saltam de repente, como: “Dois andares de estudantes empilhadas” ou “...me alimentei do constrangimento que sobrou no fundo da tigela” ou ainda “Pervertidos modernos, sua tara é penetrar dinheiro na conta alheia”.
Esse jeito de criar imagens surreais e tão significativas desabam o leitor para dentro da alma das personagens.
Enfim, mergulhe você também na literatura de Zuccala e descubra o prazer de viajar a esta ou a qualquer hora.