Vitória 04/09/2023
Tem spoiler aqui
Já vou começar essa resenha dizendo que vão ter altos spoilers aqui, e que infelizmente eles não estão sendo motivados pelos surtos, mas sim pelo ódio. Eu sou uma leitora ávida de romances dark, e o anúncio de que as Nathami iriam entrar pra esse mundo me fez pular feito uma louca dentro de casa, porque eu sabia que as bonitas não iriam mergulhar nisso pra trazer mais do mesmo. No aspecto de que elas iriam inovar eu estava "certa", mas vou falar disso mais pra frente. Porém, de resto, eu sequer conseguia reconhecer as autoras que eu tanto gosto aqui. Essa foi minha nona leitura delas, e eu confesso que, depois de tantos livros, tiveram alguns que eu não gostei tanto, que eu não consegui me conectar, porém nenhum eu odiei como esse aqui. Essa foi a minha nota mais baixa pra um livro delas, e eu vou tentar explicar por que isso aconteceu.
Eu iniciei esse livro em um dia que eu estava de ressaca, virada de um rolê que tinha me deixado acordada até as 4 horas da manhã e de outro que me fez acordar às 7 pra conseguir comparecer e no qual eu só me mantive pelas forças do monster. Eu cheguei em casa destruída, mas, como não conseguia dormir por causa do energético, li 20% do livro já que não tinha mais nada pra fazer. Nesse primeiro contato, eu até consigo colocar a culpa de não entender absolutamente nada da sociedade secreta e do que estava acontecendo no contexto de tudo o que sugou as minhas energias nesse fim de semana e do quão cansada eu estava. Inclusive, optei por dar uma pausa na leitura e só voltar pra ela no dia seguinte porque já tinha percebido que esse era um livro que iria exigir um pouco mais dos meus pobres neurônios. Porém isso não ajudou em nada. Sobre o funcionamento da sociedade secreta eu até peguei um pouco mais, afinal isso foi mostrado pelas autoras até na divulgação do livro, mas eram tantas famílias, tantos sobrenomes, tanta gente importante rica e empresária dona de sei lá qual ramo importante da indústria brasileira que era só citada dizendo "olha, esse é fulano" e que depois brotava diretamente do inferno pra ter um papel importante que eu só boiei. Sei que num primeiro livro, de inserção no universo, as coisas são mais difíceis, mas elas nunca foram tão complicadas como aqui.
Além disso, a imersão foi negativa. Eu já tive problemas de comprar um universo das Nathami no primeiro livro de uma série delas antes, inclusive na Atlética, mas isso não foi nada comparado ao que esse livro foi. Pra mim, elas simplesmente não pegaram o tom da história. Já acompanhei outras autoras que não escreviam dark e passaram a escrever, como a Gisa e a Lucy, e pra mim foi perceptível a mudança de tom na escrita das duas de um romance clichê pra um dark, mas aqui não houve mudança nenhuma. Eu simplesmente não conseguia acreditar na sociedade secreta, nas coisas horríveis que aqueles homens tinham feito, até porque todos eles eram estereotipados ao extremo. Parecia que elas tinham criado uma personalidade de malvadão do dark e que todos os homens aqui tinham só variações dessa mesma personalidade, até porque todos eles tinham as mesmas atitudes em situações semelhantes. Eu perdi a conta de quantas vezes os homens aqui quebraram copos ou coisas de vidro na parede porque estavam com raiva, ou esforcaram outro cara pra "mostrar quem manda". Depois da terceira vez lendo essa mesma cena durante o livro, eu só conseguia revirar os olhos e pedir a Deus pra acabar com isso logo. A construção de universo é uma coisa importantíssima pra mim em darks, e aqui ela foi de centavos.
Outra coisa de centavos foram os protagonistas. Eu não consegui me apegar a nenhum dele e, como sou a leitora que preza mais por personagens profundos do que qualquer outra coisa, todo o resto perdeu o brilho pra mim. A Lavínia é insuportável. A menina me passa capítulos e mais capítulos reclamando do pai e se achando a fodona por fazer um curso de faculdade sem que ele saiba, mas não faz nada pra mudar a situação em que ela está. Eu estou participando da leitura coletiva desse livro, e toda vez que as meninas falavam no grupo que achavam a Lavínia muito inteligente, eu só pensava que a gente não podia ter lido o mesmo livro. A menina está sendo perseguida por uma galera que quer matar ela a todo custo, e pensa que é uma boa ideia trocar de roupa com a melhor amiga numa festa pra fugir do segurança? Me poupe. A Cecília, nas poucas páginas em que aparece, foi a personagem que mais me cativou aqui, e eu já estava orando pra que ela fosse protagonista de uma das sequências, porque se tinha uma pessoa com capacidade pra me fazer gostar dessa série, era ela, mas até isso a Lavínia tirou de mim. E antes mesmo da morte da Cecília o meu ranço pela Lavínia já era gigantesco por ver como ela tratava a Ceci. Parecia que só os problemas dela eram gigantescos e tinham importância, que a Cecília era uma figura que só podia estar presente na vida dela pra dar apoio a ela e escutar ela chorando as pitangas, tanto que ela chega a arrancar a menina de cima do boy que ela tá pegando porque as urgências dela são mais importantes que a felicidade da amiga. Isso aqui não é amizade. Eu estava esperando algo acontecer pra Lavínia melhorar um tiquinho, mas depois da morte da Ceci eu perdi essa esperança. As autoras não conseguiram tirar da minha cabeça que aquilo foi culpa da Lavínia e da burrice gigantesca dela, porque foi.
O Danilo até me pareceu um pouquinho interessante nos primeiros capítulos. Gostei de saber que ele não nasceu herdeiro como todo mundo dentro da scacci, que ele teve uma vida difícil antes da sociedade, mas isso se resume a 2 parágrafos num livro de mais de 500 páginas. As autoras não voltam a isso, o personagem não conversa com isso com a Lavínia nem com mais ninguém, e acaba se tornando mais um homem mais raso que a poça de água que forma na porta da minha casa quando chove, tanto que a única diferença que eu consigo apontar entre ele e os ouros 300 homens desse livro é esse aspecto da infância. O romance não me pegou porque ele é inexistente. Os protagonistas não conversam, não existe diálogo, um não conhece nada da vida do outro, então se você me perguntar porque os dois se apaixonam o único motivo que eu vou conseguir apontar é que eles se comem gostoso. Inclusive, os hots são bons, mas como eu estava 100% nem aí pros personagens, acabei ficando 100% nem aí pra essas cenas também. As autoras ainda tentam tirar um negócio da bunda (aliás, da bunda não, de outro livro) de que a Lavínia se apaixonou pelo Danilo porque ela sente atração pelo medo, e eu tenho considerações a respeito disso. É óbvio que essa ideia foi tirada de Assombrando Adeline, mas aqui as autoras jogaram isso de uma forma tão leviana que se tornou perigoso. Não reclamo de terem usado da mesma ideia, afinal eu sou uma grande fã de romances clichê, que nada mais são que as mesmas tropes desenvolvidas de formas diferentes, mas você consegue entender que existe uma linha muito tênue entre você falar que a mulher sente atração por medo e fazer com que ela goste de situações das quais ela não deveria gostar? No segundo livro da Adeline ela é sequestrada, passa por coisas horríveis, e ali ela reflete que, na verdade, ela não sente atração por todo e qualquer medo. Ela se coloca em situações aterrorizantes, mas nas quais ela sempre sabia que estava segura, como ir numa casa do horror ou andar pela sua mansão no meio do nada de madrugada enquanto pensa que ela pode ser assombrada, e que os rangidos das tábuas do piso são fantasmas. Aqui não existe nada disso, então uma pessoa que tivesse contato pela primeira vez com esse plot poderia muito bem pensar "se a Lavínia tem atração pelo medo, por que ela não gosta de ser sequestrada?". Foi de uma irresponsabilidade tremenda das autoras jogar esse plot dessa maneira.
Depois de ver tantos elogios, tantos diários de leitura de pessoas surtando com esse livro, eu cheguei a pensar que o problema estava em mim, que eu poderia estar de ressaca e que por isso não tinha conseguido entrar na história, até que uma amiga minha tentou ler e sentiu as mesmas coisas que eu (a bonita inclusive abandonou, coisa que eu teria feito se fosse a pessoa que consegue abandonar livros), então eu não estou maluca. Fico triste por uma série que eu esperei tanto ter começado tão mal assim, mas acho que ainda sou capaz de insistir e ler o segundo livro quando ele sair. O primeiro livro dark da Ariane, apesar de não ter recebido uma nota tão baixa como esse, não me agradou tanto assim, e o segundo da série do cartel ganhou cinco estrelas e o coração de favorito da minha parte, então eu tenho fé. Se elas pararem de reciclar plots de outros dark de um jeito tão raso e irresponsável, e encontrarem o tom certo pra contar essas histórias, acho que as coisas podem dar certo mais pra frente. Pelo menos eu espero que deem.