Ana Alice 12/09/2023
"O estrago já foi feito. De que importa qual é o castigo?"
Pressão, exposição, bloqueio criativo e muito julgamento, tudo isso somado a mentalidade de um adolescente. Muitos pontos positivos e muitos negativos também.
A escrita do autor é muito interessante e envolvente, com elementos variados que deixam a obra ainda mais imersiva (resenhas, artigos, notícias, tweets e entrevistas sobre a banda). Uma narrativa muito descontraída, cativante e divertida, li em três dias. Passei raiva, me entretive, surtei (de irritação e de felicidade), foi uma experiência ótima.
Os personagens principais foram perfeitamente construídos e, principalmente, humanizados. Eles não sabem como se comunicar uns com os outros, não sabem pedir ajuda mesmo que todos estejam passando por problemas parecidos. Eles têm esse pensamento voltado mais para o próprio umbigo, não conseguem enxergar que poderiam encontrar apoio entre si. Seus traumas vão se acumulando e em algum momento acabam simplesmente explodindo. Todos os personagens acabam sendo babacas em alguma parte do livro, o que é completamente compreensível e justificável, ninguém conseguiria lidar com tudo isso e nunca passar dos limites.
O desenvolvimento do protagonista é o foco principal, mas acaba jogando os outros de escanteio. Tem um ou outro personagem que eu não consigo me lembrar de ter feito realmente alguma contribuição significativa. Considerando que eles, teoricamente, são elementos essenciais para a formação da obra, acho que fez falta um destaque em suas personalidades, para que não aparentassem ser tão descartáveis. Gostaria de ver um aprofundamento melhor na amizade deles e no arco de desenvolvimento pessoal de cada um.
O romance é meio água com açúcar, não por ser ruim, mas por ter acontecido muito rápido. Eu não consigo visualizar em que momento o relacionamento deles passou do estágio "amigos" para "namorados". Me incomodei um pouco com alguns diálogos deles, porque os dois mal se conheciam e parecia que eles não se entendiam muito bem, e isso nem era exatamente culpa deles, já que a Gravadora não deixou espaço para eles se conhecerem direito e se aproximarem, usando-os como um impulso de carreira para ambos. Mas acredito que depois dessa jornada, com tudo mais claro e definido, eles consigam manter essa relação de uma forma mais saudável e natural.
A conclusão foi muito fácil. O final todo foi meio corrido e unilateral da parte do Hunter, como se ele fosse o único errado e culpado. Senti falta de umas consequências e algo realmente trabalhado para tratar delas. Faltou diálogo entre os personagens (para mim, eles precisavam de umas sessões de terapia). A resolução foi tão simples, de repente tudo já estava corrigido e bem, nem mostrou os problemas que aquilo trouxe e nem como eles lidaram com isso.
No geral, funciona bem como uma leitura mais despretensiosa, para relaxar, rir, ter algumas reflexões sobre nossa realidade e passar o tempo. É aquele tipo de livro que você devora em poucos dias, embora não seja 10/10 em questão de desenvolvimento. Recomendo muito, mesmo com os defeitos, vale a pena.