Lurdes 14/12/2023
Não achei que seria possível, mas Salvar o Fogo é tão bom quanto Torto Arado.
Itamar nos presenteia com uma estória emocionante que traz à tona muitas questões abordadas no livro anterior, como a disputa por terras, conflitos familiares, abuso de poder, ancestralidade, religiões de matriz africana, acrescidas, aqui, de tradições e encantamentos de origem indígena.
Mas não é, de forma nenhuma, uma releitura ou continuação de Torto Arado.
Apesar de algumas similaridades o autor conta uma nova estória, fresca, intensa, com personagens marcantes que devem permanecer em nossa memória afetiva por muito tempo.
O menino Moisés é filho temporão de Alzira e Mundinho. A mãe morre quando ele é ainda pequeno e cabe à irmã Luzia tomar conta dele e educá-lo quando todos os outros irmãos vão embora da Tapera, um a um, cada qual em busca de seu destino.
O relacionamento entre eles é conturbado. Luzia, apesar de buscar o melhor para Moisés, como garantir sua educação, é incapaz de gestos de carinho.
Moisés, mesmo revoltado com a dureza de Luzia, se preocupa com ela, em especial pela perseguição que ela sofre por possuir uma corcunda e ser vista como bruxa, capaz de produzir fogo, pelo povo do lugar.
Todos vivem sob forte domínio do Convento, não apenas no que diz respeito à religião, que se impõe e considera qualquer outra demonstração de fé como maligna, mas na opressão econômica que exerce, cobrando foro dos moradores, mesmo que estes já ocupassem as terras muito antes de a Igreja chegar.
Em determinado momento os irmãos irão se reencontrar, recordar e reviver muitos fatos, segredos, mágoas e alegrias do passado, quando iremos conhecer mais, também, sobre Maria Cabocla, uma das irmãs.
Fico louca pra contar e comentar mais, mas não quero quebrar o encanto que as inúmeras revelações provocam.
O autor nos lembra de não esquecer que:
"o fogo só existe livre"
Se você lhe prender e tirar o ar, ele se apaga.
Recomendo demais.
Você precisa conhecer Luzia, Moisés, Maria Cabocla e tantos outros.