Danilo Barbosa Escritor
28/09/2023Essa capa fofa engana!Quem pega nas mãos “O trono de Jasmim”, da indiana Tasha Suri, pensa que vai encontrar um romance de fantasia sáfico, cheio de referências e fofo, algo para acalentar o coração de quem gosta de histórias LGBTQIA+…
É aí que o leitor se engana, e feio. Porque na verdade, esta é uma fantasia fodástica, boa para uma p%¨&ra, ao nível de quem gosta de mortes, intrigas e guerra, muita guerra… além, é claro, de um romance slow burn entre duas mulheres fortes, cada uma à sua maneira, dispostas a fazer de tudo para conquistar o que precisam.
Malini foi condenada pelo Imperador – seu irmão fanático religioso, tirano e misógino – a ser queimada viva para tornar-se sagrada… Quem mandou ela desafiá-lo?! E por se recusar ao papel de mártir, a princesa acaba sendo banida, condenada a morar em um templo no alto de uma montanha, onde a coisa mais básica que aconteceu lá foi um massacre, já que queimaram vivas várias crianças que tinham poderes sagrados, ligados a Natureza … Sério, o lugar é tão tenebroso que no quarto onde ela fica “hospedada” ainda é possível ver as paredes escuras, queimadas pelo crime. Isso sem contar a papoula que lhe obrigam a tomar todo dia, para ficar quietinha… pesado, né?
É lá que ela conhece Pryia. A serviçal tem um passado com esse lugar, conhecido como Hirana, e esconde de todos a sua verdadeira natureza e poderes que podem ser um perigo se visto pelas pessoas erradas - além do fato da bondade inerente dela sempre a colocar em problemas. Um atentado as une, e começam a agir juntas, não só por terem planos em comum, mas um sentimento crescente que ambas tentarão de todas as formas controlar, para não se perderem.
Já aviso que isso é só o começo da coisa toda. A autora criou um universo bem elaborado de guerra pelo poder, na busca de quem ficará com o trono, já que é nítido desde a primeira página que o imperador deve cair, antes que as suas crueldades tomem proporções irreversíveis. Em cada capítulo, os pontos de vista vão mudando, não só entre as duas, mas outros personagens igualmente marcantes, que fazem o possível – de bom e ruim – para conquistarem o próprio lugar como vitoriosos na história.
Ninguém aqui se salva no quesito bondade. Eles manipulam, dissimulam, matam, fazem qualquer coisa por aquilo que acreditam. Personagens que começam apagados ganham força – Bhumika, eu te amo! – e a linha entre heróis e vilões se confundem, fazendo com que fiquemos com os olhos grudados no livro, nesse Game of Thrones misturado com a Guerra da Papoula, devido ao nível de nuances e violência, mas com todo o encantamento da Índia e seus mistérios.
Quero muito ler a continuação, já que a história para em um momento em que residem inúmeras possibilidades e ideias na nossa mente. Espero muito que o segundo chegue logo por aqui. Enquanto isso, tentemos não roer as unhas de ansiedade.