Luiza Helena (@balaiodebabados) 16/06/2024Originalmente postada em https://www.balaiodebabados.com.br/June Hayward é uma aspirante a escritora que ainda aguarda ansiosamente sua grande oportunidade no mundo literário. Quando ela testemunha a morte trágica de sua amiga Athena Liu, June acidentalmente descobre um rascunho do próximo livro da falecida, que se trata de um romance experimental. Essa obra explora as contribuições pouco reconhecidas dos trabalhadores chineses nos esforços de guerra realizados pelo Reino Unido e pela França durante a Primeira Guerra Mundial.
Movida pela mistura de admiração e inveja em relação ao talento de Athena, June decide publicar o livro inacabado, assumindo a autoria da obra como se fosse dela.
Impostora aborda sobre questões de apropriação cultural, privilégio branco e ética literária. Na personagem June, Kuang toca no ponto sobre autores brancos que se apropriam de narrativas marginalizadas para obter reconhecimento e fama, sem realmente compreender ou valorizar as experiências das comunidades que estão representando.
O livro expõe as dinâmicas dos bastidores do mundo editorial, revelando as rivalidades e as panelinhas que muitas vezes permeiam a indústria. June é dissimulada, egoísta, invejosa, e por isso foi muito difícil ter sororidade. Em nenhum momento ela se responsabiliza por suas ações ou acha que está fazendo algo de errado, mesmo com pessoas apontando e teorizando sobre seu "novo livro".
Diferente das outras experiências que tive com a autora (como a trilogia Poppy War e Babel), sua escrita aqui é bastante ágil e o tom de sátira está presente no livro todo. Mas não espere algum arco de redenção de June na reta final; aqui é o típico caso de livro que o protagonista não evolui em nada (se vacilar, só vai piorando durante a história).
No geral, Kuang foi bem cirúrgica em Impostora ao tocar na questões de apropriação cultural e privilégio branco no campo da literatura. Ao explorar a jornada de June Hayward, ela levanta importantes questionamentos sobre ética, responsabilidade e as consequências de se apropriar de narrativas de outras culturas em busca de sucesso pessoal.
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