Cathy 02/12/2021A vontade é entrar no guarda-roupa da autora e de lá não mais sairTive o privilégio e a alegria de acompanhar, em cada post do blog ‘Um Ano Sem Zara’ a trajetória da Joanna na descoberta de sua criatividade e, ao mesmo tempo, a quitação das dívidas que a soterravam, mediante o compromisso de ficar um ano inteiro, 366 dias, sem gastar com vestimenta e afins. “O plano era simples e perfeito em sua simplicidade: para garantir que cumpriria a promessa, me comprometi a narrar a minha fornada num blog que seria compartilhado com amigos e família. Assim, ficaria estabelecido um mecanismo de monitoramento e cobrança da minha fidelidade ao propósito maior de sair do vermelho”. Mas eu não fazia a ideia do que ocorreu por trás de todos aqueles cliques de fotos, o que ensejou cada look.
E foi maravilhoso aprofundar nos meandros desse desafio, entrando na vida da autora durante aquele período, divisor de águas para ela e para nós, aqui, do lado de fora também.
Mas o caminho trilhado demonstrou outros dotes e dons da autora, e ajudou (e ajuda) a muitos que a acompanharam esse desafio. “Eu amo shoppings porque amo os momentos que vivi neles. Porque amo lembrar dessa Jojo magrela, com pés grandes e bochechas rosadas que andava de mãos dadas com as melhores amigas do mundo. Amo lembrar do gosto da casquinha de baunilha e a mão que encostava sorrateiramente na mão ao lado no escuro do cinema. E amo lembra aquela sensação de comprar uma coisa que eu quis mundo e, na minha cabeça, ia certamente mudar a minha vida para melhor”. Não eram as roupas em si mesmas, e sim a sensação de comprar, e somente ficando sem comprar por longo período, é que ela compreendeu isso e outras coisas sobre si mesma que estavam engavetadas fundo no armário da vida.
Não se trata apenas da organização de seus gastos, mas, também, como gastava sua energia em coisas sem valor, sempre em busca de novas emoções, sem cuidar das emoções que já estavam dentro de si mesma. “Comprar era como eu lidava com os meus problemas, como eu me distraia, como eu fazia passar o tempo”. Foi uma redescoberta dos tesouros de seu guarda-roupa e de sua própria alma. “Não comprar me dava a oportunidade de viver”. “As peças separadas, guardadas no armário, não tinham alma nenhuma, e talvez por isso eu não lhes desse, até então, muito valor. Eram coisas sem significado, não me levavam a lugar nenhum. Era esquecidas e substituídas assim que a adrenalina da compra e o apelo de ‘novas’ começava a se apagar depois de dois ou três usos. E foi assim que eu as enxerguei por tanto tempo. Até dez meses antes, eu vivia lotando o armário de coisas, algumas caras, outras baratas, mas sem valor. Vivendo soterrada de roupas, mas eternamente paralisada pela sensação de não ter o que usar. Com a minha criatividade adormecida, anestesiada pelo fluxo constante do novo”.
E o gasto desenfreado transformou-se em um consumismo consciente que ela leva até hoje, seguindo o princípio de que qualidade é bem melhor e superior que quantidade, quando está a se tratar de moda (e de amigos também). “... roupa boa é aquela que bem carregada de significado”.
Bom humor, sagacidade, profundidade de sentimentos, sinceridade na assunção de erros e alegria de alcançar seus objetivos, dentre outros, são aspectos que o leitor encontrar fartamente na obra.
Não há linha de chegada nessa corrida, espero que não. Até porque aguardo com imensa ansiedade o volume dois (vai ter, né Joanna, please!).